¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, dezembro 13, 2008
 
RUMO AO EX-BRASIL (III)


Cronologia da invasão – Nestes dias em que os Estados Unidos estabelecem aeroportos, bases militares e estações de radar em torno às fronteiras da Amazônia brasileira - na Bolívia, Colômbia, Venezuela e Guiana -, cabe lembrar os litígios que envolvem Roraima. Salomão Afonso de Souza Cruz e Haroldo Amoras dos Santos, no relatório intitulado O Dilema de Roraima: Terra de Índios e Minérios, nos dão uma cronologia desta invasão, que começa em 1957, com a chegada na atual área ianomâmi dos missionários da Missão Evangélica da Amazônia (MEVA), entidade missionária interdenominacional especializada no trabalho indígena.

Em 1973, o projeto RADAM individualiza mais de 37 corpos de granitos circulares, todos favoráveis à mineralização da cassiterita. Dois anos depois é descoberto o garimpo de cassiterita de Surucucus. No ano seguinte, 1976, este garimpo é fechado. Em dezembro de 1977, uma portaria da Funai cria quatro áreas ianomâmis.

Nesta década de 70, chega em Roraima o bispo Aldo Mongiano, egresso de Moçambique onde militou junto à guerrilha de esquerda, e aí começam os conflitos na região. Em 1977, a Secretaria de Segurança do então território de Roraima recebe as primeiras denúncias contra o padre Giorgio Dalbem, feitas pelos próprios índios, que o acusam de estar pregando a demarcação de áreas contínuas na região das serras e a expulsão de todos os índios. Em janeiro, é realizada uma reunião na Vila Surumu, promovida pela Diocese de Roraima, com a presença de 40 tuxauas, do CIMI e de jornalistas do Pará e Amazonas. Nesta reunião foi discutida a necessidade da demarcação de reservas indígenas em faixas contínuas.

Em 07 de março, Dinarte Madeira, então delegado da Funai, e depois presidente da entidade, comunica à Brasília que vários tuxauas reunidos no posto indígena de Raposa fizeram proposta de "áreas envolvendo várias malocas". No documento, o delegado diz que na mesma reunião havia advertido os índios de que "uma área desmesurada seria indeferida, devido à grande quantidade de não-índios nas terras de Raposa e Serra do Sol".

Em 17 de março, o diretor substituto do DGO (departamento da Funai) informa ao presidente do órgão que "as numerosas aldeias espalhadas por todo o território de Roraima desaconselham, a nosso ver, a criação de reservas indígenas que as englobem, pois seria assim abarcada quase toda a superfície daquela unidade federada". Em 21 de outubro, a Funai cria um grupo de trabalho para identificar e delimitar as áreas indígenas em Roraima. Para a área Raposa/Serra do Sol o grupo define uma superfície de 1.347.810 hectares, recenseando 8.500 índios, contrariando parecer do Departamento Fundiário, ficando clara a divergência interna da Funai, entre antropólogos e funcionários de setores administrativos. Nas questões indígenas, segundo os autores do relatório, os antropólogos são aliados da Igreja.

Em maio de 1978, outra portaria da mesma entidade cria quinze reservas ianomâmis. Nove em Roraima e seis no Amazonas – uma extensão das ilhas, segundo a proposta oficial. Ainda neste mesmo ano, em 07 de julho, outra portaria da Funai cria uma reserva ianomâmi em Roraima. Três dias depois, outra portaria cria outra reserva ianomâmi em Roraima. A Companhia de Pesquisas e Recursos Mineirais (CPRM) inicia então o projeto Catrimani-Uraricoera, visando o mapeamento básico e a prospecção aluvionar para sedimentos pesados.

Em 1979, a CPRM acaba encerrando os trabalhos de campo, por não ter conseguido autorização da Funai, após terem sido detectadas mais de 30 ocorrências de ouro e cassiterita, além de outros minerais. Neste mesmo ano, é formada a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), presidida por Cláudia Andujar. Pretender que tal nome seja de origem suíça é no mínimo estranho. Segundo me consta, a moça é romena. De qualquer forma, esta senhora cuja câmera capta momentos angelicais de seres que sequer chegaram ao neolítico, vai desempenhar um papel fundamental no projeto de destruição da Rondônia e dissolução territorial do país.

Em julho deste mesmo ano, a CCPY apresenta proposta para a criação do Parque Yanomami, protocolada na Presidência da República, com cópia para o ministro da Justiça e para o presidente da Funai. A proposta da Funai é de cerca de 5,5 milhões de hectares, nos estados de Roraima e Amazonas. No mês seguinte, a proposta recebe parecer favorável do Conselho Indigenista da Funai.