¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, janeiro 08, 2009
 
CINEMA BRASILEIRO
FAZ ESCOLA NOS EUA



O último filme nacional que vi foi lá por 78 ou 79. Eu fazia a cobertura do Festival de Cartago, em Túnis, na Tunísia. Quando procurava o Palais des Festivals, observei que um casal loiro seguia atrás de mim. Me pareceram suecos. Que fazem suecos em Túnis? – me perguntei. Vendo que estava em rumo errado, dei meia volta. O casal abordou-me. Ele me perguntou:

- Monsieur, savez-vous où est le Palais des Festivals?
- Mais non, justement je le cherche.

Notei um acento familiar na fala de meu interlocutor.

- Vous n’êtes pas brésilien?
- Oui, j’en suis!
- Então vai pra pqtp e falemos brasileiro. És de onde?
- De Curitiba.
- Então só podes ser o Sílvio Back.

Era. Durante duas boas semanas confraternizamos nos restaurantes de Túnis. Que não são de deixar-se de lado. Back me convidou para ver seu filme, Aleluia, Gretchen, que concorria no festival. Fui. Foi o último filme brasileiro que vi em minha vida. Não gosto do cinema nacional, suas propostas não me agradam, sua estética não me satisfaz. Antes que alguém diga que tenho preconceitos com a cinematografia nacional, já vou avisando que também não suporto o cinema francês. (Abro uma exceção, Claude Lelouch. Que, não por acaso, é detestado pela crítica francesa). Não que os filmes sejam mal feitos. É o jeito de filmar. Filme francês, de modo geral, é teatro filmado. E se há arte que não suporto, é teatro.

Quem definiu isto muito bem foi o cômico francês Louis de Funés. Estabelecendo a diferença entre o cinema americano e o francês, disse:

- No cinema americano, quando o personagem está diante de uma porta, ele a abre e entra. Já o cinema francês é literário. O personagem tem de falar. Antes de entrar, ele tem de dizer: voilà, la porte.

Não por acaso, tanto o cinema francês como o brasileiro vivem de subsídios estatais. No Brasil, é um escândalo que clama aos céus castigo. Cineastas medíocres financiam seus filmes via a tal de renúncia fiscal, que no final da cadeia sobra para o contribuinte. Fazem filmes idiotas, em geral de cunho marxista, que não conseguem atrair público algum. Pouco importa, os diretores já embolsaram o seu. Para vender seus peixes podres, exigem cotas obrigatórias de exibição nas salas nacionais. E depois se queixam de que os brasileiros preferem filmes americanos. De minha parte, até admito a hipótese de algum dia voltar a ver um filme nacional. Mas não aceito pagar. Como contribuinte, já paguei. Mais ainda: só vou se a produção vier me buscar em casa. De limusine.

Pois o Brasil parece estar fazendo escola. Leio no El País que o cinema pornográfico americano, inspirado pelas ajudas públicas a setores como o bancário, imobiliário e automobilístico, está querendo também levar o seu. Larry Flint, o editor de Hustler, e Joe Francis, responsável por Girls Gone Wild, pediram ao Congresso americano nada menos que 5 bilhões de dólares, para safar sua indústria da crise pela qual atravessa.

“O pornô foi afetado pela recessão como todo mundo”, declararam Flynt e Francis. Para estes senhores, “o governo deveria apoiar ativamente a sobrevivência da indústria pornografia e seu crescimento, da mesma forma que sente a necessidade de apoiar qualquer outra indústria apreciada pelas pessoas”.

Ora, daí a subsidiar a prostituição vai só um passo. A prostituição é indústria também apreciada por muitas pessoas. “Está na hora de o Congresso rejuvenescer o apetite sexual da América”, afirmam, pois “em meio desta miséria econômica e com as pessoas perdendo todo esse dinheiro, o sexo é a última coisa na qual se pensa, o que é muito pouco saudável”.

Na verdade, alguma razão não deixam de ter, afinal os Estados Unidos estão fornecendo Viagra aos chefetes tribais do Afeganistão, para conseguir sua colaboração. Se contribuem para as alegrias sexuais de uma nação hostil, por que não contribuir para a lascívia ianque?

O que Flynt e Francis parecem não entender é que a pornografia via Internet está matando o cinema pornográfico. Mas suspeito que andaram se informando como se faz cinema no Brasil.

Aleluia, irmãos! Estamos fazendo escola.