¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, janeiro 06, 2009
 
A MEDICINA SALVA E DEUS
RECEBE TODAS AS HONRAS



É admirável a disposição com que o vice-presidente José Alencar, hoje com 77 anos, vem lutando há mais de década contra um câncer de abdômen. O homem entra e sai de cirurgias e parece estar sempre bem. Pessoa profundamente religiosa, é bastante possível que esta tranqüilidade toda se deva à sua fé. Neste sentido, confesso minha admiração pelo eterno bom humor do vice.

Respeito todas as fés, o que não me impede de criticá-las. Tanto filosofias como religiões são passíveis de críticas, ou então não teríamos saído das trevas da Idade Média. Mas se admiro a coragem com que um crente enfrenta a adversidade, há algo que considero abominável, essa mania de atribuir a Deus as curas que a medicina realiza.

Em entrevista publicada hoje no Estadão, ao ser interrogado sobre qual a receita para vencer, diz José de Alencar:

- Tenho muita fé em Deus. Tem uma verdadeira corrente no Brasil inteiro, que tem me ajudado muito. As pessoas me mandam cartas, novenas, remédios, orientações, orações. Eu não tenho medo da morte.

Que não tenha medo da morte, entende-se. Mas toda a vez que o mal o acomete, o vice-presidente procura medicina de ponta. Interna-se no hospital Sírio-Libanês, um dos mais qualificados de São Paulo e, conseqüentemente, do país. Já fui hóspede do Sírio-Libanês e tiro meu hipotético chapéu à competência de seus profissionais e serviços. José de Alencar está tendo, sem dúvida alguma, um dos melhores atendimentos médicos do continente.

Se é homem que deposita profunda fé em Deus, por que então procurar medicina de ponta? O auxílio divino não seria mais que suficiente? Ah! Eu conheço esta raça. São salvos pela medicina e creditam a cura à divindade. Quando minha mulher estava doente, aliás da mesma peste que Alencar, formaram-se correntes de oração no país todo. Tanto eu como ela – ambos ateus -, não tínhamos nada contra, afinal rezar por alguém é sempre um gesto de afeto. Obviamente, não confiávamos nas tais correntes.

Ela também foi tratada com a melhor medicina. Mas a doença acabou vencendo. Os crentes todos acreditavam que suas orações a curariam. “Vamos empenhar todos nossos créditos junto ao Poderoso”, disse-me um colega dela. Pelo jeito eram créditos tão podres como os títulos da dívida pública, pois o Poderoso não os aceitou.

Quando ela morreu, mudou a filosofia dos crentes. “Que bom para ela, agora ela está feliz junto a Deus!” Resta a pergunta: se morrer é chegar à felicidade, por que então não rezavam para que chegasse logo à felicidade?

Decididamente, não consigo entender a raça.