¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, fevereiro 25, 2009
 
AINDA MOZART NA ÁFRICA (II)


Do Humberto Quaglio, recebo:

Olá Janer,

Acompanhando em seu blog o tema inteligência, raça e cultura, lembrei-me de um artigo muito interessante publicado na Scientific American de 28 de novembro de 2007: http://www.sciam.com/article.cfm?id=the-secret-to-raising-smart-kids .

A idéia central deste artigo, que se baseia em uma pesquisa, é a de que a ênfase no esforço é mais determinante para o bom desempenho intelectual do que a inteligência inata, ou QI. Se uma criança é estimulada a pensar que deve sempre se esforçar por aprender mais, por se aprimorar, por desenvolcer a própria inteligência, ela pode vir a ter mais sucesso nos estudos, na vida escolar ou acadêmica, do que uma criança cuja inteligência superior inata é apenas elogiada, ou mencionada, mas que não é estimulada a dar importância ao esforço intelectual. Acho que isto é razoável. Se colocarmos uma criança muito inteligente para ser criada em um lar no qual os adultos só dão atenção a novela e futebol, só ouvem "funk" e outros ruídos desagradáveis do mesmo gênero, e onde a única leitura existente é anúncio de oferta de supermercado, não creio que tal criança terá um desenvolvimento mental significativo. Igualmente, se colocarmos uma criança de inteligência mediana em um lar onde a boa cultura é estimulada, onde se dá importância à boa leitura e aos estudos, possivelmente seu desenvolvimento intelectual será bom.

Na minha limitada cosmovisão, a idéia de que o meio não possui nenhuma influência sobre a inteligência é tola. Mais que isso, asinina. Da mesma forma, a idéia de que apenas o meio determina a inteligência ou o desenvolvimento intelectual de uma pessoa é igualmente tola. Para mim, é bastante óbvio que há pessoas que nascem mais inteligentes que outras, há crianças que, recebendo o mesmo estímulo, a mesma criação, possuem inteligências desiguais, capacidades cognitivas diferentes. Há quem aprenda com mais facilidade. Mas pensar que apenas um ou outro fator é absoluto, ou seja, que apenas a inteligência inata, a genética, ou o meio, vão determinar a inteligência de um indivíduo, é tolice. Tomemos como exemplo as crianças orientais desnutridas criadas por pais americanos, mencionadas em seu blog. Se separarmos tais crianças em dois grupos, e sanarmos a desnutrição em um deles, será que as médias de inteligência permanecerão as mesmas? Penso que isso seria pouco provável, e que as mais bem nutridas teriam uma média de inteligência superior. Desnutrição prejudica a inteligência. Isto me parece bastante óbvio e uma boa alimentação é um fator ambiental, não um fator genético.

Quanto à questão das raças, e das pesquisas sobre a inteligência média de cada uma delas, também desprezo essa sandice politicamente correta de que não se deve fazer pesquisa sobre o assunto. Considero o conhecimento da natureza importante, sem estas limitações tolas de caráter político. Assim, se a ciência corroborar a idéia de que é um fato natural a desigualdade de inteligência média entre as raças, mentir sobre isto por causa de ideologias políticas me parece besteira.

Porém penso que uma coisa deve ser levada em conta: o que se mede nestas pesquisas é a média de inteligência entre raças. A média! Ou seja, pode-se concluir que, independentemente da raça, é possível haver indivíduos mais ou menos inteligentes. Suponhamos que constate-se que a inteligência média dos brancos é inferior à dos asiáticos. Isto não significa que todos os indivíduos brancos são menos inteligentes que os asiáticos. Pelo contrário, significa que, mesmo que seja uma minoria, pode haver alguns indivíduos brancos mais inteligentes que alguns indivíduos asiáticos. O mesmo com qualquer outra raça. Assim, pode-se concluir que há negros mais inteligentes que brancos ou asiáticos, mesmo que a inteligência média da população seja diferente.

Para mim, isto basta para fundamentar outro aspecto da minha cosmovisão, ou seja, minha opinião de que não se deve prejulgar a inteligência de uma pessoa com base em sua raça, mas sim em seus méritos individuais, mesmo que a raça à qual ele pertença tenha uma inteligência média inferior.

Outro coisa que percebo quando me deparo com este assuntro é a confusão que muita gente faz quando discute a idéia de igualdade. Na maioria das vezes, percebo que pouca gente compreende a diferença entre os conceitos de igualdade formal e igualdade material, o que leva as pessoas a um equívoco (no sentido estrito da palavra equívoco, ou seja, chamar, ou considerar, igualmente, coisas diferentes). Muita gente acha que, se é óbvio que as pessoas nascem diferentes, que suas capacidades, seus méritos, suas habilidades, suas virtudes e vícios, bem como suas fortunas, são diferentes, então toda idéia de igualdade é tola. De fato, penso que a idéia de igualdade material é ingênua, tola. Aliás, a idéia de igualdade material é festejada entre os esquerdistas de todo tipo, sejam relativistas, pós-modernistas, socialistas, enfim, esta cambada de gente tola ou desonesta. No entanto, ainda considero a igualdade formal entre os indivíduos um dos princípios fundamentais para a boa convivência em sociedade e para a própria justiça. Acho estas cotas universitárias um exemplo perfeito de algo que subverte a igualdade formal e estabelece uma injustiça em nome de uma igualdade material impossível e inexistente. As cotas não levam em conta o mérito do indivíduo, qualquer que seja sua raça, destroem a oportunidade que um indivíduo tem de, com o próprio esforço, obter sucesso, em nome de um privilégio de um grupo.

Gostaria também de fazer uma observação sobre uma afirmação que você fez no artigo anterior: "O que afirmo é que as culturas negras são inferiores às culturas brancas. Atenção: não estou falando de raça, estou falando de cultura." Concordo plenamente. Aliás, isto me parece bastante óbvio. Mas, atualmente, fazer esta afirmação óbvia nos meios acadêmicos brasileiros, dominados pela praga do "politicamente correto", do relativismo pós-modernista, do marxismo cultural (tão bem explicado por Ernest Gellner em sua obra "Pós-modernismo, Razão e Religião"), é anátema, é considerado escandaloso. Por defender um idéia tão óbvia, a da desigualdade cultural entre os povos, eu já fui chamado na faculdade de nazista, racista, preconceituoso, entre outras ofensas. Recentemente, tive um debate acalorado com uma pessoa que ostenta o título de doutor, sobre um assunto que você costuma expor às vezes em seu blog. Esta pessoa insistia em me convencer que a cultura dos índios que matam seus filhos, que vivem como viveram outros povos no neolítico, não pode ser considerada inferior à nossa cultura ocidental.

Eu, um modesto bacharel em Direito e acadêmico de História, tive de ouvir de um Doutor, ao final do debate, um argumento de autoridade ridículo, quando meu interlocutor não tinha mais outros argumentos para sustentar aquela idéia absurda. Disse o doutor ao final de nosso debate que eu estava errado em afirmar que uma cultura pode ser inferior a outra, pois minha afirmação contradizia a idéia de quase todos os antropólogos brasileiros contemporâneos. A isto, respondi que se danem os antropólogos, e que meu ateísmo também contradiz a idéia da maioria dos meus contemporâneos, e que nem por isso eu vou renunciar ao meu ateísmo.

E por falar em ateísmo e QI, lembrei-me ainda de uma outra notícia recente, que é pertinente: http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u415923.shtml .

Um grande abraço de seu leitor

Humberto Quaglio