¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, fevereiro 17, 2009
 
COMO SE NADA TIVESSE ESCRITO
SOBRE O NEONAZISMO SUÍÇO...



Sábado passado, transcrevi artigo do lúcido jornalista Gilles Lapouge, no Estado de São Paulo. Indignado com a agressão dos neonazis suíços a advogada brasileira em Zurique, Lapouge fechava dramaticamente seu texto: "A única coisa certa é que as marcas do horror, mesmo que desapareçam da carne da moça, dificilmente se apagarão no profundo de suas noites. Como poderá ela esquecer que esteve cara a cara com o mal?"

Hoje, como se jamais tivesse escrito este libelo contra o nazismo suíço, Lapouge escreve:

CASO DA BRASILEIRA NA SUÍÇA
É REPLETO DE CONTRADIÇÕES

Advogada afirma que foi agredida por neonazistas; polícia trabalha com hipótese de autoflagelo


PARIS - Reviravolta dramática no caso da jovem advogada brasileira atacada, na noite de segunda-feira, perto de Zurique, por três jovens em trajes pretos e armados de estiletes. A rádio Suisse Romande divulgou o testemunho do médico que examinou a vítima. E seu veredicto parece não conter ambiguidades: aparentemente, foi uma encenação, montada pela própria jovem.

Segundo este médico, Paula Oliveira não estava grávida, o que anula a tese de que ela teria abortado as filhas gêmeas. Quanto aos cortes sobre os braços e a barriga, reproduzindo a sigla do partido extremista e xenófobo SVP, o médico não os levou a sério. São demasiado regulares para que possam ter sido feitos numa pessoa em pânico, debatendo-se como louca. Além disso, não são profundos, afirma.

Estas dúvidas somam-se às que os policiais suíços haviam manifestado. Eles notaram contradições no testemunho da jovem. Numa primeira declaração, o ataque teria acontecido em um lugar próximo de Zurique chamado Dudendorf; posteriormente, teria ocorrido em um outro bairro perto de Zurique, Stettbach. Neste relato, permanecem partes nebulosas. Na quinta-feira, falava-se do namorado suíço da jovem, que não estaria no local do drama, e sim nas proximidades. Depois, não se falava mais nele.

As rádios suíças e os internautas levantam alguns questionamentos. Foi ressuscitada uma antiga expressão da "clínica psiquiátrica", o termo "histeria", que levaria algumas pessoas a inventar doenças ou perigos para fazer frente à própria angústia ou aos seus terrores. A histeria tinha efeitos absolutamente incompreensíveis, inexplicáveis no corpo de suas vítimas, como mostraram Charcot e Freud. Os histéricos colocavam frequentemente no centro de seu próprio teatro poderes nocivos como Satã, o diabo.

Relatórios médicos recentes sobre casos de histeria mostram que, hoje, o diabo intervém menos frequentemente do que na Idade Média, do que na Renascença ou mesmo do que no início do século XX, na época de Freud. Satã teria sido substituído por outras figuras "do mal", e evidentemente, por cerimoniais nazistas ou neonazistas.

No ano passado, uma jovem alemã portadora de deficiência física contou ter sofrido ataques de nazistas. Em seu corpo foram constatados ferimentos com a forma da cruz gamada. Toda a Alemanha se comoveu com o fato. Os médicos especialistas estabeleceram que a própria jovem infligira a si mesma as feridas. Em Paris, há dois anos, uma condutora de ônibus afirmou ter sido estuprada e espancada por jovens imigrados. Também neste caso, seu corpo apresentou as marcas. Estas também falsas.

É claro que não se pode considerar como totalmente certo o testemunho de um único médico, ainda mais que o reflexo natural dos suíços é minimizar a presença de extremistas em seu território. A Suíça é um Paraíso terrestre. Ela não pode abrigar tais torpezas. Portanto, teremos de aguardar as novas conclusões da polícia e da Justiça antes de podermos nos pronunciar de maneira definitiva.


Pedido algum de desculpas aos leitores, admissão alguma de sua barriga jornalística. Foi como se jamais tivesse escrito algo admitindo o ataque à moça. Encontro cara a cara com o mal? Quem foi mesmo que escreveu isso? – deve estar se perguntando Lapouge. Clóvis Rossi e Eliane Cantanhêde pelo menos deram uma de madalenas arrependidas. Lapouge não se arrepende de nada.