¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, fevereiro 16, 2009
 
FIÚZA, O PATRIOTÃO EMÉRITO


Só não vou pedir perdão ao leitor por estar-me alongando nesta novela da brasileira na Suíça, porque acredito que o leitor esteja também interessado. O caso é emblemático e além de desvelar uma faceta importante da imprensa contemporânea, mostra a verdadeira personalidade de muitos cronistas e os ressentimentos nutridos seja em relação à Europa, seja em relação à falência da ideologia marxista. A affaire é extremamente didática e mereceria um sólido ensaio sobre as reações suscitadas.

Sem falar, que a história toda me diverte. Um leitor atento enviou-me o artigo infra, escrito pelo jornalista Guilherme Fiúza e publicado no Globo de ontem. Mesmo três dias depois de evidenciado o embuste, mesmo depois da súbita retração de Lula após suas bravatas iniciais, mesmo depois das desculpas esfarrapadas de Clóvis Rossi e Elaine Cantanhêde, ainda há quem pretenda que a imprensa nacional só publica verdades e que Paula Oliveira é uma pobre vítima. O que me lembra aquele polêmico astrólogo, que sempre provou por A + B que existiam armas de destruição massiva no Iraque. Depois que Bush admitiu seu engano e admitiu que tudo não passara de uma grossa mentira, ele deve estar acreditando ainda que Bush é quem se engana ao admitir que se engana. Voilà a pérola:

NÓIS É COLÔNIA

DOM, 15/02/09
POR GMFIUZA

Paula Oliveira não escapará do linchamento. Se for culpada, os anjinhos nazistas da Suíça estão prontos para pendurá-la na cruz da xenofobia. Se for inocente, terá de conviver com o fato de que seu país se envergonhou de lhe dar solidariedade. É por isso que o Brasil é (e para sempre será) uma colônia. Apesar dos ganidos terceiromundistas, continua subalterno. Na alma.

Só uma alma subalterna poderia, ao ouvir a polícia suíça acusar Paula de golpe, passar a desconfiar imediatamente da brasileira. Até prova em contrário, os suíços estão certos. Afinal, eles são… Suíços.

Se não fosse covarde, o Brasil jamais adotaria o silêncio oficial sobre o caso Paula. Ao contrário, reforçaria seu discurso público exigindo investigação rigorosa. Mas o Brasil, a princípio, duvida dos brasileiros.

Paula Oliveira é uma advogada bem formada, mora legalmente na Suíça, trabalha numa empresa conhecida e estável, é noiva de um cidadão suíço que, como ela, não tem delitos no currículo. Paula pode ter pirado. Mas se não merece crédito a priori, quem vai merecer?

A polícia suíça afirmou que a brasileira provavelmente se auto-flagelou, porque as marcas de navalha estão todas ao alcance de suas mãos. Seja qual for a verdade, essa afirmação, tecnicamente ridícula, é um show de leviandade e prepotência. O Brasil, se não fosse uma colônia, deveria repudiá-la.

Mas a vida segue, e você deve torcer para não ter seus olhos furados por vândalos nas ruas de Zurique. Os suíços poderão acusá-lo de tentar ganhar uma pensão para deficientes físicos. Afinal, seus olhos estão ao alcance das suas mãos.
Paula pode não ter sido atacada. Pode ter sido atacada e abortado. Pode ter sido atacada e, transtornada, ter fantasiado o aborto. É o que as investigações vão esclarecer, se forem isentas. E não há nem meio indício de isenção na postura sôfrega das autoridades suíças.

Começa a se formar uma onda contra a imprensa brasileira nos jornais europeus. Como ousam esses periféricos de segunda classe afrontar desta maneira uma nobre cidadela do Primeiro Mundo?

Vamos deixar claro, pelo menos aqui neste espaço: a Suíça, além das inclinações totalitárias, é o paraíso mundial da corrupção. Seus bancos, como se sabe, lavam mais branco. Portanto, devagar com esses arroubos virtuosos.

E eles construirão a verdade que quiserem sobre Paula. Porque o Brasil, para variar, está botando o rabo entre as pernas.