¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, fevereiro 20, 2009
 
RECÓRTER TUCANOPAPISTA
TENTA TIRAR O SEU DA RETA


Escreve hoje o recórter tucanopapista hidrófobo, em seu blog na Veja:


HÁ TROUXA PRA TUDO. OU: OS
MARQUETEIROS DO VITIMISMO


Eu não sei as motivações da tal Paula Oliveira para ter mentido. O que é certo é que foi uma mentira meticulosamente construída, não?, com as fotos exibindo a sua suposta gravidez enviadas a todo mundo. Gravidez que ela exibia por fora, com a barriga estufada, e por dentro, com o falso ultrassom, colhido na Internet. Parece que ela estava plantando indícios, até chegar à falsa agressão, propagandeada no Brasil por certos ramos da imprensa — ou quase isso — chegados no marketing do vitimismo. Os bocós vestiram a camisa verde-amarela e saíram por aí.

Também seu namorado suíço sustentava a gravidez. Quem é ele? Trabalha em quê? Como ganha a vida? Certo, certo, o povo da antiga Helvécia, vocês sabem, é frio como a neve lá fora, mas o será a ponto de não se interessar minimamente em ver os exames médicos que provam uma gravidez? Ou muito me engano, ou este rapaz lamentou a perda das duas “menininhas”, enquanto os vitimistas brasileiros suavam seu nacionalismo ofendido por todos os poros, e Celso Amorim, o Gigante, prometia vingança. E alguns gritavam por aqui: “Sim, é a xenofobia! Agora vão culpar o Terceiro Mundo pela crise! Eles não querem saber de nós!”
(...)
O que realmente me fascina é que, até agora, ninguém admite que errou: nem Celso Amorim nem os que superestimaram o caso. Já escrevi aqui que compreendo o sofrimento da família, mas tal compreensão tem um limite. Paulo, o pai de Paula, precisa mudar o discurso e parar de afirmar que acredita na versão da filha. Ou deixará a imagem até agora cultivada de pai extremoso para se confundir com um pai ou licencioso ou comprometido com as mentiras contadas pela moça. E os motivos ainda são obscuros. QUE ELA TENTOU DAR CONOTAÇÃO POLÍTICA AO CASO, ISSO É EVIDENTE.

“Delírio motivado pelo lúpus”, dizem agora... É, então foi um delírio metódico, continuado, até com sotaque ideológico (dada a realidade política da Suíça). Os mercadores do vitimismo também deveriam estar envergonhados e se desculpar com os leitores. Mas não vai acontecer. Afinal, sabem existir trouxa pra tudo.


É no mínimo curioso ver um trouxa chamar os demais trouxas de trouxa. Santa e tardia indignação para quem já escreveu:


REPÚDIO E CUIDADO

Tendo tudo acontecido segundo o que foi relatado, a brasileira Paula Oliveira foi vítima da mais odienta manifestação de racismo — que não partiu da “sociedade suíça”, é bom deixar claro, mas de um bando de delinqüentes. Nesse caso, não basta uma simples reação de repúdio. O governo brasileiro, de fato, precisará fazer mais, deixando claro que o empenho dos suíços em encontrar os culpados passa a ser fundamental na relação entre os dois países. Se o governo da Suíça não pode, e não pode, ser responsabilizado pelo que aconteceu, o empenho na investigação é, sim, uma obrigação.

O relato que se tem indica que a brasileira foi exposta a extremos de brutalidade, ainda mais chocantes consideradas as conseqüências: o aborto de gêmeos. Tudo, mas tudo mesmo, nesse caso, escandaliza e causa estranheza. E ainda mais chocante é o fato de que os agressores não fizeram nenhuma questão de disfarçar o seu propósito, não é? A sigla de um partido político que a oposição acusa de ser racista — atenção: não se trata de um partido clandestino, neonazista, mas de uma legenda legalmente constituída — foi gravada no corpo de Paula. E se deve notar: mesmo no escuro, num ato apressado, sob o temor óbvio de serem vistos por alguém, ainda não se descuidaram da simetria, procurando distribuir com equilíbrio as marcas da selvageria. As letras obedecem a um traçado cuidadoso, firme, sem aparente variações de profundidade.

Tanta perversidade requer uma apuração rigorosa. Na hipótese de os agressores serem mesmo simpatizantes do Partido do Povo Suíço (SVP, sigla da legenda em alemão), esperam que isso aumente a simpatia da população pela legenda, por mais que os suíços fossem, como se diz aqui e ali, indiferentes a agressões a estrangeiros? Fazem-no para chegar ao poder por meio do terror? Mas o partido já está no poder. E governa o país segundo as regras da democracia. Aqui e ali vejo certa contraposição porque a polícia suíça não teria “confirmado” a agressão e evite falar em “xenofobia e racismo”. Bem, antes da investigação, o que se espera que a polícia faça? Celso Amorim até pode dizer um "tudo indica" que é isso. Quem investiga não pode fazê-lo. Mas que cuidado não seja confundido com descaso.

Que o governo brasileiro, com efeito, fique atento aos desdobramentos desse caso e que se exija o máximo rigor na investigação.