¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, março 27, 2009
 
ONU E ISLÃ PROPÕEM
IDADE MÉDIA TOTAL



Sempre me reservei o direito de criticar toda e qualquer religião. Se criticamos o Estado, se criticamos filosofias e comportamentos, se criticamos artes e literatura, por que estaríamos proibidos de criticar religiões? Estariam as religiões acima de qualquer crítica? Não estão. Se isto fere suas convicções, paciência. Qualquer jornal que você leia, em algum momento, inevitavelmente, vai ferir seu modo de ver o mundo. Democracia é assim mesmo. Idade Média é outro departamento.

O mesmo não pensa a Organização das Nações Unidas. Leio nos jornais que o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) aprovou ontem uma resolução que condena a difamação religiosa e passa a considerar o ato como uma violação aos direitos humanos. O documento também pede que governos adotem leis protegendo as religiões de ataques.

Diz a sura 2:191, do Corão: “Matai os infiéis onde quer que os encontreis”. Quem são os infiéis? Segundo o Islã, todos os que não são muçulmanos. Todo aquele que não aceitar Alá como deus único e Maomé como seu profeta está ipso facto condenado à morte. A ONU, em nome dos tais de Direitos Humanos, quer que os governos adotem leis que protejam os maometanos de qualquer crítica a esta incitação ao assassinato. E mais ainda: crítica nenhuma ao profeta. As leis do Ocidente podem tipificar à vontade como pedofilia ou estupro as relações de um adulto com uma menina de nove anos. Mas que jamais alguém ouse condenar como pedófilo ou estuprador um bode velho por ter deflorado Aisha... aos nove anos de idade. Aisha foi uma das onze mulheres de Maomé. Alá permite quatro, mas concedeu privilégio especial a seu profeta bem-amado.

Calem-se os historiadores sobre as guerras de conquista tanto do Islã como da Igreja Católica. Isso ofende profundamente papas, cardeais, bispos, padres, aiatolás e mulás. Isso sem falar nos crentes, que se ouriçam todos mal lembramos da Inquisição. Daqui para a frente, proibido falar das fogueiras que católicos e protestantes ergueram na Europa e mesmo Além-Mar para queimar bruxas e hereges. Se os governos aderirem à vontade da ONU, cuidem-se os ateus ou crentes de outras religiões que vêm nos dogmas da Igreja de Roma ridicularias do medievo. Em alguma punição deverão ser incursos.

Palavrinha nenhuma contra os absurdos pronunciamentos de um papa que envia uma mensagem de morte a um continente todo, ao condenar os preservativos. Daqui para a frente, não será mais ridículo pregar a castidade ou o uso de cilícios. Aliás, Sua Santidade que se cuide. Que não ouse citar doravante imperadores de séculos passados, como já o fez com Manuel II Paleólogo, que pedia a um interlocutor persa: "mostre o que Maomé trouxe de bom e verás apenas coisas más e desumanas, como sua ordem de divulgar a fé usando a espada". Esta lembrança feriu profundamente as meigas almas muçulmanas.

É chegada a hora de banir das bibliotecas e livrarias autores como Nietzsche ou Voltaire. Ou mesmo Kazantzakis ou Saramago, que ousaram propor desenlaces diferentes aos Evangelhos. O Vaticano já pode reativar o Index Librorum Prohibitorum, onde estão catalogadas as obras dos inimigos da fé. A propósito, condene-se a monumental obra do historiador Ernest Renan, sua história do cristianismo e sua história do judaísmo. Bom também proibir qualquer história da Igreja, dos papas ou mesmo do Islã. São lembranças que podem ofender os crentes. Essa recente safra de autores ateus, como Michel Onfray, Daniel Dennet, Christopher Hitchens, Richard Dawkins, Sam Harris, pode ir se acostumando à idéia de ver seus livros recolhidos do mercado. Bom também proibir de vez a Bíblia, que considera obra do demônio o culto a qualquer outro deus que não o judaico-cristão.

Cuidem-se os pastores evangélicos que atacam a macumba e a umbanda como obras do demônio. Cuidem-se também juízes, promotores e jornalistas que ousam condenar as vigarices dos evangélicos. Está na hora de libertar e absolver de toda culpa aqueles santos pastores encarcerados numa prisão dos Estados Unidos, a bispa Sonia e o apóstolo Estevam Hernandes. A prisão destes dois mártires fere profundamente a sensibilidade dos seguidores da Renascer.

A resolução da ONU tem um endereço certo. Foi proposta pelos países islâmicos, que há dois anos trabalham pela aprovação de decisões para proteger sua religião. A proposta foi apresentada pelo Paquistão e copatrocinada por quem? Pela Venezuela de Hugo Chávez. Pelo jeito, o caudilho de opereta está querendo abrigar, sob as cálidas asas da ONU, seu brilhante achado, o “bolivarianismo”. Entre os que votaram a favor da resolução, além de Cuba e Venezuela, estavam países africanos e islâmicos, estes magníficos exemplos de democracia. A Europa votou contra a resolução, alegando que a medida fere a liberdade de expressão e de imprensa. Foi voto vencido, como seria de se esperar.

A ONU ignorou solenemente o acórdão Handyside, de 1976, reconhecido pela Corte Européia de Direitos do Homem. Que declara:

“A liberdade de expressão vale não apenas para as informações ou idéias acolhidas com favor, mas também para aquelas que ferem, chocam ou inquietam o Estado ou uma fração qualquer da população. Assim o querem o pluralismo, a tolerância e o espírito de abertura, sem o qual não existe sociedade democrática”.

O que a ONU está propondo, no fundo, é uma Idade Média total. Se na Idade Média eram proibidos apenas os livros e autores que contestavam a Igreja de Roma, a entidade agora quer a proibição de qualquer livro ou autor que conteste toda e qualquer religião. Enquanto isto, o Islã, autor da proposta, continua se reservando o direito de matar os infiéis, onde quer que se encontrem.

Palavra do Profeta. Allah-u-akbar!