¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, março 21, 2009
 
REPUBLIC OF SHRIMPS, DEI GAMBERI,
DE LAS GAMBAS OU DES CREVETTES?



Ainda as palavras. Vários leitores estranharam quando, ao falar do Cameroun, escrevi: “que a imprensa brasileira insiste em traduzir por República dos Camarões”. Um deles me afirmou conhecer uma habitante do país que jurava de pés junto ser República dos Camarões, em português. De minha parte, já li artigo de um diplomata do Cameroun, lotado em Brasília, reclamando com veemência da tradução brasileira. Um outro leitor escreve:

Eu já ouvi foi um torcedor camaronês na época de uma das Copas do Mundo, reclamando da mesma coisa. Na Enciclopédia Britannica, que eu julgo confiável, mais que a Wikipedia, com certeza, encontrei o seguinte texto:

The country's name is derived from Rio dos Camarões (River of Prawns)—the name given to the Wouri River estuary by Portuguese explorers of the 15th and 16th centuries. Camarões was also used to designate the river's neighbouring mountains. Until the late 19th century, English usage confined the term the Cameroons to the mountains, and the estuary was called the Cameroons River or, locally,the Bay. In 1884 the Germans extended the word Kamerun to their entire protectorate, which largely corresponded to the present state.


Permanece minha dúvida. Para Costa do Marfim temos em inglês, Cote d’Ivoire. Em francês, Côte d’Ivoire. Em espanhol, Costa de Marfil. Em italiano, Costa d’Avorio. Seguíssemos a mesma norma, teríamos para Camarões, respectivamente, Republic of Shrimps (ou of Prawns, já que o camarão seria de rio), République des Crevettes, Republica de las Gambas, Repubblica dei Gamberi. Se a Britannica traduz Rio dos Camarões por River of Prawns, por que não usaria o mesmo critério para demoninar o país? No entanto, não é assim. Em inglês temos Cameroon, em francês, Cameroun, em espanhol Camerún e em italiano Camerun. Me parece muito inviável que, do ponto de vista lingüístico, Camarões tenha derivado para estas denominações.

Que mais não seja, no site em português da embaixada do país, lá está: Embaixada da República do Cameroun no Brasil. A Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília (UNB) fala em República de Cameroun.

No Portal Consular do Ministério das Relações Exteriores, temos: “República do Cameroun (em francês) ou Cameroon (em inglês). Em português é constantemente referido como República dos Camarões”. Ou seja, nem a embaixada do país nem o MRE põem a mão no fogo por Camarões. A meu ver, a tradução usual brasileira foi mais uma dessas versões canhestras que invadem a língua e são adotadas pela imprensa.

Quando trabalhava na Folha de São Paulo, sugeri ao responsável pelas normas de grafia do jornal que a Folha teria poder suficiente para consertar este erro. "Agora é tarde" - me respondeu.