¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

sexta-feira, março 27, 2009
 
TABULA RASA


De Humberto Quaglio, recebo:

Olá Janer!

Saudações!

Lembrei-me de você e de alguns de seus artigos publicados no blog, como o último (Afrodescendentada dividida), imediatamente após a leitura de um trecho de um parágrafo de um livro excelente que estou terminando de ler. Trata-se do Tabula Rasa – A Negação Contemporânea da natureza Humana, do psicólogo canadense Steven Pinker. O livro é recente, foi publicado pela primeira vez em 2002. Vou deixar que o autor fale por si, transcrevendo o trecho que me chamou a atenção (páginas 202 e 203 da primeira edição publicada no Brasil pela Companhia das Letras em 2004):

“...embora as diferenças genéticas entre raças e grupos étnicos sejam muito menores que as encontradas entre indivíduos, elas não são inexistentes (como vemos em sua capacidade de originar diferenças físicas e diferentes suscetibilidades a doenças genéticas, como a doença de Tay-Sachs e a anemia falciforme). Hoje virou moda dizer que as raças não existem, que são puramente construções sociais. Embora isso certamente seja verdade com respeito aos escaninhos burocráticos como ‘de cor’, ‘hispânico’, ‘asiático/habitante de ilha do pacífico’ e à regra generalizante para ‘negro’, é um exagero quando falamos das diferenças humanas em geral. O antropólogo e biólogo Vincent Sarich observa que uma raça é apenas uma família imensa e parcialmente endógama. Algumas distinções raciais, portanto, podem ter um grau de realidade biológica, embora não sejam fronteiras exatas entre categorias fixas. Os humanos, tendo evoluído recentemente de uma única população fundadora, são todos aparentados, mas os europeus, como se reproduziram principalmente entre si durante milênios, são em média parentes mais próximos de outros europeus do que de africanos ou asiáticos, e vice-versa. Como os oceanos, desertos e cordilheiras impediram as pessoas de escolher seus parceiros aleatoriamente no passado, as grandes famílias endógamas que denominamos raças ainda são discerníveis, e cada qual tem uma distribuição de freqüência de genes um tanto diferente das demais.”

O livro traz bastante informação sobre a questão dos ianomâmis, defendendo o Napoleon Chagnon, que você cita em seu também excelente Ianoblefe.

Pinker ataca três mitos presentes há séculos no pensamento humano, especialmente caros às esquerdas do nosso tempo: o mito da mente como “tabula rasa”, sem nenhum componente inato, como se todos os seres humanos nascessem iguais e todos os traços da personalidade, do caráter, dos gostos, fosse aprendido, fosse exclusivamente advindo da cultura; o mito do “bom selvagem”, este especialmente caro às muitas bestas que no Brasil costumam ostentar o título de antropólogos; e o mito do “fantasma na máquina”, este especialmente caro aos religiosos, com suas crenças em almas e espíritos, ou seja, o de que a mente é algo mais do que o armazenamento e processamento de informações no cérebro, de que a mente não pode existir tendo como componente apenas a matéria. O autor se baseia em terreno sólido: a neurologia, a psicologia evolucionista e a biologia.

Eu recomendo a leitura da obra. Tenho a forte impressão que o livro vai te agradar muito.

Um grande abraço.