¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, abril 26, 2009
 
MOSCA TONTA OU MOSCA CÍNICA?


Ney Messias escrevia para um público culto, capaz de entender sua fina e ferina ironia. Como a mosca do Ney, Gabeira hoje não se dá conta da total desmoralização, tanto do Congresso como de seu mandato. Fala com a serenidade dos justos, como se a farra das passagens tivesse acontecido no Paraguai e não em Brasília, com Dom Fernando Lugo e não com ele. Como se a produção excrementícia do Congresso se abatesse sobre a cabeça de todos seus pares, mas jamais sobre a sua. Pelo jeito, não viu a vaca sacudindo o rabo e se julga puro de toda imundície.

O deplorável em tudo isso, é ver jornalistas fingindo acreditar nos bons propósitos de um corrupto como tantos outros. Mais ainda, confesso. A coragem foi refugiar-se naqueles outros corruptos, que defendem abertamente o direito à corrupção. Até mesmo o experiente William Wack, no debate na Globo, foi condescendente com a farsa. Fora este que vos escreve, só ouvi duas outras vozes na grande imprensa que não engoliu as potocas do impoluto deputado. Uma foi João Ubaldo Ribeiro, no Estadão:

"Mas o que me surpreendeu mesmo, nessa do Gabeira, foi ele ter contado uma história, na qual ele revela que acha que nós é muitíssimo mais burro que nós é. Disse que, quando veio à frente e revelou que também era agente de viagens, como tantos de seus colegas, arranhou sua imagem política espontaneamente. Quem engoliu essa deve filiar-se ao Alimárias Anônimas mais próximo de sua casa. Claro que o verdadeiro arranhão aconteceria se ele não se antecipasse à revelação, que viria mais cedo ou mais tarde. Aí é que seria chato mesmo e ele, astutamente, se antecipou para eludir o constrangimento, mas acha que pode tapear a gente com outra conversa. Quer dizer, esse negócio de ter certeza de que todo mundo aqui é cretino ou fronteiriço deve ser um vírus que dá lá no Congresso e que acabou pegando o Gabeira também".


Outra foi Cora Rónai, em O Globo:

“Para nós, cariocas, que tanto nos orgulhávamos de ter um parlamentar como Fernando Gabeira e tanto nos empenhamos na sua campanha à prefeitura, fica, além de tudo, o gosto amargo da decepção. Nunca pensei, aliás, que pudesse usar essa palavra — decepção — em relação a um político, mas aí está. Continuo achando que, apesar de tudo, existe uma grande distância entre ele e a maioria dos seus pares, mas não há como negar a mancha na sua biografia, ou a dúvida entre o seu eleitorado. O que mais ele fez que apenas ainda não veio à tona? Do que mais vai se arrepender depois do flagra?”

Para meu gosto, Cora foi muito gentil.