¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, abril 16, 2009
 
PERGUNTAS A QUEM INTERESSAR POSSA


Adoro essas conjunções de fatos que colocam em choque diferentes culturas. Nossos sedizentes humanistas ficam divididos entre essa moda contemporânea de respeitar as diferentes tradições e as definições legais de crime vigentes no Ocidente. Estes conflitos surgem todos os dias nos jornais e em geral implicam a vida ou a morte dos envolvidos. São muito comuns tanto no universo islâmico como cristão e agora estão se tornando correntes no Brasil.

Em setembro passado, falei de três irmãs, com idades de 16 a 18 anos, Hameeda, Ruqqaya e Raheena, que viviam em Baba Kot, uma aldeia no Baluchistão, uma província árida situada no sudoeste do Paquistão, nos confins do Irã e do Afeganistão. Elas morreram enterradas vivas numa vala comum. Qual crime teriam cometido para merecer pena tão brutal? Cometeram o mais abominável dos crimes para uma família muçulmana: quiseram escolher o próprio marido, dispensando a escolha dos país. Foram trituradas pelas lâminas de um buldôzer, fuziladas – sempre é bom garantir – e depois empurradas para uma vala previamente cavada. Estavam ainda vivas quando foram cobertas com areia e pedras.

O PPP, o partido do clã dos Bhutto que está atualmente no poder no Paquistão, endossou o crime bárbaro, para ofender os chefes de tribos do Baluchistão. O Ocidente chiou, mas obviamente ninguém será punido por tais assassinatos.

Sem ir muito longe, o caso da menina de Alagoinha. Em nome de uma doutrina estúpida da Igreja de Roma, um arcebispo anunciou a excomunhão de médicos e familiares de uma menina grávida de gêmeos, que havia sido estuprado pelo padrasto. Excomunhão por quê? Porque os médicos optaram pelo aborto, para salvar a vida da menina. A atitude do arcebispo foi tão brutal que chegou a provocar divisão nas cortes vaticanas.

Ontem ainda, a imprensa nos brindou com um conflito dos bons, a indiazinha ianomâmi que está sendo tratada num hospital de Manaus, vítima de hidrocefalia, pneumonia, tuberculose e desnutrição. Segundo as tradições da tribo, ela deve ser morta por sufocamento ou enterrada viva, o que dá no mesmo. Seus pais, em respeito à nobre cultura ianomâmi, querem retirá-la do hospital. Para matá-la conforme os rituais da tribo.

Ainda na semana passada, eu comentava o novo estatuto indígena que, segundo os redatores do Estadão, contaminados pela antropologia contemporânea, retiraria dos índios a condição de inimputáveis. Gentileza do jornal. O novo estatuto, em verdade, torna os índios totalmente inimputáveis. Pois para condenar um índio, “a Justiça precisará avaliar se o ato praticado está de acordo com os usos e costumes da comunidade indígena a que pertence e se o índio tinha consciência de que cometia uma ilegalidade”. Ou seja, se enterrar criancinhas vivas está de acordo com os hábitos da tribo, o indígena não comete delito algum. A rigor, segundo o novo ordenamento proposto, os pais da bugrinha podem exigir na justiça o direito de enterrá-la viva. Não por acaso, foram ao hospital exigir o exercício deste direito.

A direção do hospital, diante das suspeitas de que a criança seria sacrificada por ser portadora de deficiência física, acionou o Ministério Público Estadual pedindo a permanência da criança sob cuidados médicos. Uma juíza concedeu pedido de providências ordenando que a menina fique onde está até que seu quadro clínico seja considerado satisfatório. Indignação da FUNAI. Segundo seu administrador em Manaus, Edgar Fernandes, a Justiça “não tem prerrogativa para julgar esse caso. Questões envolvendo índios têm de ser resolvidas na Justiça Federal. Vamos recorrer ao Ministério Público Federal para interceder a favor da família", disse. Edgar quer que a menina morra, em respeito às tradições tribais.

A Funai divulgou uma nota explicando que esse tipo de ritual faz parte da cultura da etnia ianomâmi. "Gerar um filho defeituoso, que não terá serventia numa aldeia que precisa necessariamente de gente sadia é um grave pecado, pois este não poderá cumprir o seu destino ancestral". Para o antropólogo Ademir Ramos, a eutanásia “é uma questão já resolvida para os ianomâmis. Eles precisam de gente saudável na aldeia. Uma criança com deficiência gera uma série de transtornos aos integrantes da tribo".

Pergunta a quem interessar possa: onde estão os sacerdotes e demais católicos que denunciam a eutanásia como crime? Onde está o arcebispo de Olinda e Recife, que tornou pública a excomunhão dos médicos que praticaram um aborto para salvar a vida de uma mãe de nove anos? Onde estão o CIMI, a CNBB e o Vaticano, que permanecem silentes ante este assassinato anunciado? Ou será que estes doutos humanistas não tomarão a defesa de uma criança prestes a ser assassinada, em nome de bárbaros costumes de tribos bárbaras? Onde andam os petistas e demais esquerdistas, sempre militantes quando se trata de denunciar as execuções de seus companheiros, que queriam transformar o país numa ditadura bolchevique?

Sou todo ouvidos e não ouço nada.