¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, maio 29, 2009
 
AINDA EINSTEIN


Mensagem do Eraldo

Caro Janer.

Em follow-up ao debate sobre a Relatividade, no blog, eu gostaria de dizer que a Relatividade foi, sim, apropriada e ideologizada por diversos setores da intelectualidade, dando origem ao que hoje chamamos de 'Relatividade cultural', que está na base de todos os equívocos ideológicos que vemos ao redor, notadamente questões racias/étnicas, como políticas de cota, etc.

Einstein não batizou a teoria, e não se sentia muito à vontade quando ela começou a ser chamada de 'Teoria da Relatividade'. Ele acabou se rendendo mais tarde. Seu trabalho original de 1905 chama-se "Da Eletrodinâmica dos Corpos em Movimento".

Einstein era um cientista "clássico", e não se filiava a ideologias. Mesmo sua militância no pacifismo e no movimento Sionista tinha um caráter pessoal e universalista. Ele veio a se decepcionar mais tarde com a agressividade do movimento, e acabou se afastando do 'hard core'.

Por fim devo dizer que o Princípio da Relatividade foi primeiramente enunciado por Galileu Galilei em seu tratado "Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo" [Diálogo Sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo], de 1632, sendo conhecido como "Relatividade Galileana", e estabelece que as leis da física devem ser verdadeiras independemente das coordenadas do observador [em inglês 'frame of reference'].

Abraço,

Eraldo Marques



Mensagem do Francisco José

Bom dia, Janer,

Bravos pelo ceticismo, mas há afirmações bastante questionáveis nos dois textos sobre Einstein. Primeiro, é discutível que Poincaré tenha cunhado o termo Relatividade. Tal primazia cabe, no mínimo, ao físico Ernst Mach, que foi o primeiro a, seriamente, por em cheque os conceitos de tempo e espaço absolutos. Einstein nem usou o termo em seu artigo de 1905.

Quando Einstein publicou seu artigo nos Anallen ele era um obscuro funcionário público em Berna, enquanto Poincaré já era conhecido como um dos maiores matemáticos do seu tempo, senão o maior. Quem tinha mais condições de promover lobbies?

O autor do E=mc2 foi indubitavelmente Einstein, que, no seu desenvolvimento, aplicou as transformações de Lorentz e o princípio da velocidade-limite da luz. Poincaré jamais, repita-se, jamais, avançou que a velocidade da luz era um limite do universo. Portanto, nem de longe se pode atribuir o E=mc2 a Poincaré.

Nem muito menos a Lorentz, que era um físico conhecido e admirado por Einstein. As transformações de Lorentz derivam diretamente de um insight de um fisco escocês chamado Fitzgerald. Este sim, é que poderia ser considerado um precursor realmente efetivo do que ficou conhecido depois como a teoria da relatividade.

Supondo que o comitê do Nobel tenha titubeado em atribuir a relatividade restrita exclusivamente a Einstein, o que é altamente questionável, uma vez que o trabalho de Poincaré não contém o principal da teoria, que é a velocidade-limite da luz, o prêmio pela explicação do efeito fotoelétrico não pode ser considerado apenas um pretexto. A explicação é um dos eventos fundadores da mecânica quântica, que responde, em boa parte, pelo que o mundo é na atualidade.

Não se esqueça que, além da relatividade restrita, Einstein fez ainda a relatividade geral em 1915, mostrando que o espaço não só não é absoluto como também é uma “coisa”, que sofre a ação da matéria e energia. Ninguém se arrisca a dizer que a Geral foi prenunciada por Rienmann, que foi o matemático cuja geometria foi amplamente utilizada por Einstein para desenvolvê-la.

Dizer que Einstein não sabia distinguir uma grandeza de sua medida é de uma enormidade sem tamanho. No seu anno mirabilis, como é conhecido o ano de 1905 para Einstein, ele desenvolveu ainda o instrumento matemático do movimento browniano, que tem aplicações até na economia moderna.

Quanto a dizer que a Relatividade é uma ideologia, seja lá o que queira significar isso, as duas teorias de Einstein passaram por todos os testes de comprovação a que foram submetidas. Esse fato talvez seja único na história da física, já que a mecânica quântica ainda não goza de previsibilidade total dos fenômenos.

A inconsistência a que o segundo texto se refere, conhecida como o “paradoxo dos gêmeos”, já foi amplamente comprovada aqui mesmo na terra. Dois relógios sincronizados, um deixado na terra e outro a bordo de um avião, registram diferentes passagens dos tempos depois das viagens.

Os textos são mais um exemplo daquela convenção de Castela, quando Colombo desafiou os sábios a porem um ovo de pé. Eles também acharam fácil quando Colombo quebrou a casca e conseguiu fazê-lo.

Um abraço.

Francisco José de Queiroz Pinheiro