¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, maio 30, 2009
 
DITADOR VENEZUELANO
DESAUTORIZA FANZOCA



Vai mal o jornalismo nacional. Especialmente a Folha de São Paulo. Ainda há pouco, jornalistas experientes como Clóvis Rossi, Elaine Cantanhêde, Barbara Gancia, caíram como patinhos no conto da brasileira atacada por neonazis na Suíça. Em verdade, sobrou até para o Itamaraty e a Presidência da República. O intrépido ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, chegou a pedir ao governo da Suíça transparência nas investigações e rigor na punição dos agressores. O Supremo Apedeuta foi duro: “O que nós queremos é que eles respeitem os brasileiros lá fora como nós os respeitamos aqui e como nós os tratamos bem aqui. Acho que não podemos aceitar e não podemos ficar calados diante de tamanha violência contra uma brasileira no exterior”, afirmou.

Terça-feira passada, outra barriga monumental da Folha. Janio de Freitas descobre a presença de “um integrante da alta hierarquia da Al Qaeda” no Brasil. A manchete não durou sequer o que duram as rosas. Desde sexta-feira, não se fala mais no assunto.

Hoje, Clóvis Rossi reincidiu. Demonstrando uma insuspeita simpatia sobre o mais recente clown latino-americano, o cronista comenta o desafio do ditador venezuelano aos escritores que, liderados por Vargas Llosa, visitam a Venezuela: “Louve-se, aliás, Chávez por ter seguido essa linha ao propor um debate entre intelectuais de direita e de esquerda. Ideias se combatem com ideias, não com a censura, a prisão ou o banimento de quem as difunde”.

Rossi se referia ao debate proposto por Hugo Chávez aos escritores Vargas Llosa, do Peru, Jorge Castañeda, do México, Plinio Apuleyo Mendoza, da Colômbia, e o historiador mexicano Enrique Krauze, que foram a Caracas a convite do fórum Encontro Internacional pela Liberdade e Democracia. Os escritores decidiram que, para maior eficácia e clareza, o debate fosse apenas entre Chávez e Mario Vargas Llosa.

Ocorre que Hugo Chávez propôs o debate à tarde. "Eu digo seriamente, senhores da direita (...). Como eles dizem que [o debate] é comigo, eu aceito. Às 11h da manhã, eu lhes espero, portanto. "Alô, Presidente" abre as suas portas. Aí no salão Ayacucho. Venham, serão respeitados, sem evadir nenhum tema, qualquer tema é válido. Transmissão ao vivo."

À noite, outra era a disposição de Chávez. Quando a imprensa venezuelana já falava em “o debate do século” – como se o século já estivesse estertorando e tivesse idade suficiente para ser julgado –, Chávez recuou: "Vargas Llosa primeiro deve ganhar as eleições do Peru", afirmou em seu programa de TV”. O escritor foi candidato derrotado às eleições presidenciais peruanas de 1990.

Clóvis Rossi – levantando seu bracinho à la Dr. Strangelove antes do tempo – já havia até encontrado um motivo para simpatizar com o mais grotesco dos caudilhos latino-americanos. Só que seu ídolo decidiu que não é exatamente com idéias que se combatem idéias. Como o cronista parece não comunicar-se com a redação da Folha, acabou sendo desautorizado pelo próprio jornal em que escreve, na mesma edição em que escreveu.