¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, maio 25, 2009
 
O BRAVO BISPO PARAGUAIO
E NOSSOS BRAVOS GENERAIS



Recebo seguidamente e-mails furibundos, atacando o governo Lula, denunciando os desmandos do PT e defendendo o regime militar de 64, geralmente assinados por generais ou coronéis de pijama. São valentes, estes senhores, agora que reformados e sem voz na tropa. Quando exerciam seus comandos e detinham poder nas mãos, cães covardes com o rabo entre as pernas, permaneceram calados e subservientes ao governo. Hoje, isentos de punição por insubordinação e com soldo garantido, são modelos de bravura e indignação cívica. Lembram-me o bispo emérito Don Fernando Lugo, hoje presidente do Paraguai, acusado por três mulheres de ser o pai de seus filhos. Três, por enquanto.

Em entrevista ao jornal argentino Clarín, disse Don Fernando: "O celibato é uma opção pessoal de fé requerida pela Igreja Católica, mas tudo que o homem faz é sujeito a falhas. Acredito que apenas Deus é infalível. Tudo que o homem faz está sujeito a falhas. É o caso do celibato". Como nossos generais de pijama, o emérito reprodutor considera-se um bravo: "O fato do presidente reconhecer seu filho apesar de todo poder que tem é considerado por muitos um ato de bravura”.

Ou talvez de DNA. Atolado nas areias movediças da hipocrisia episcopal, quando mais esperneia, mais Don Fernando afunda. Por que não falou quando ainda tinha voz na Igreja? Sua confissão de “homem sujeito a falhas” seria um testemunho de vital importância ante uma igreja muda e insensível à sexualidade de seus pastores. Defroqué, seu discurso vale menos que um guarani. Ocorre que, se falasse enquanto bispo, estaria perdendo as regalias de Roma. Hoje, embalado pelas regalias do poder laico, se dá ao luxo de renunciar às antigas.

Esta é a razão da existência de tantos sacerdotes fornicadores na Igreja. Fora do generoso seio da Santa Madre, sentem-se como bezerros desmamados. Preservam então a batina, que além de fetiche para muitas mulheres, é garantia de sigilo de suas escapadelas. Mulher que dorme com padre está tranqüila: jamais será difamada no bar da esquina.

Mas Don Fernando, mesmo quando pretende parecer humilde, continua sofismando. O que está em jogo já nem é mais o celibato, mas o harém. Macho alfa dominante, o semental da pátria vai espalhando filhos por onde passa. Seria mais honesto se admitisse: “A monogamia é uma opção pessoal de fé requerida pela Igreja Católica, mas tudo que o homem faz é sujeito a falhas. Acredito que apenas Deus é infalível. Tudo que o homem faz esta sujeito a falhas. É o caso da monogamia".

Pois monogamia também é exigência de fé da Igreja de Roma, tão opressiva e castradora como o celibato. Que o diga o sábio rei Salomão, do tálamo de suas setecentas mulheres e trezentas concubinas. Bispos e generais, que por ofício têm de renunciar a um pensamento próprio em obediência a um poder maior, em muito se parecem.