¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, junho 23, 2009
 
AINDA OS DIPLOMAS


Se o curso de Filosofia me deu algo na vida, foi a Baixinha. Foi lá que a encontrei, em meus 17 anos, e até hoje viveríamos juntos se ela já não tivesse partido. Mas não é disto que pretendia falar. Recém-formada, fez concurso para auditor fiscal. Na época, exigia-se para o ofício apenas curso superior. Poderia ser até de Educação Física. Mas tinha de ter diploma.

Formada em Filosofia, ela trabalhou a vida toda com legislação tributária. Fez cursos na área e o resto aprendeu no dia-a-dia. Aposentada, trabalhou no Conselho de Contribuintes em Brasília e deu assessoria a um escritório de advocacia em São Paulo. Seus pareceres no Conselho produziam jurisprudência. Certo dia, inconformada com a impossibilidade de assinar petições por não ser formada em Direito, tomou uma decisão: “Vou fazer um curso de Direito”.

Dei força. Mas não acreditei que conseguisse cursá-lo. Quem passou a vida toda trabalhando com leis não conseguiria suportar a precariedade de um curso de Direito. Ela persistiu em seu propósito e fez vestibular na prestigiosa – e cara – Mackenzie. Naturalmente, foi aprovada. No primeiro dia de aula, voltou chorando. “Vi aquelas menininhas todas, tive vergonha. Não consegui entrar”.

Eu a abracei. “Bobagem, Baixinha. Vai em frente. Daqui a duas ou três semanas, a tia estará liderando as menininhas”. Ela voltou. Não conseguiu agüentar dois dias.

No primeiro dia, um professor de Direito Constitucional perguntava às menininhas:

- O Direito é uma emanação da so... da so... da so?

Resposta alguma.

- Da socie... da socie?

- Da sociedade - respondeu alguém mais atilado.

No segundo dia, o mesmo professor perguntava;

- Ao Direito dos Costumes chamamos direito con... direito con... con?

Ni pensar.

- Consue... consue... consue?

Silêncio total.

- Consuetudi... consuetudi... consuetudi?

Muito menos.

- Consuetudinááááário – completou o professor, feliz com sua sapiência.

Como eu previra. No terceiro dia de aula, a Baixinha era ex-aluna de Direito.

Só para concluir: o mundo está cheio de profissionais extremamente competentes em diversas áreas, sem o devido curso exigido pelas corporações. Ainda ontem, aqui em São Paulo, cerca de 200 estudantes protestavam contra a decisão do STF de acabar com a obrigatoriedade de diploma para jornalista. Obrigatoriedade que não existe em país algum do mundo. Só neste Brasil dominado por sindicatos.

É triste ver jovens, que supomos ainda não corrompidos em decorrência da luta pela vida, empunhando bandeiras corruptas. Já chegaram à senectude, sem passar pela maturidade.