¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, junho 06, 2009
 
ÓCIO BEM REMUNERADO
GERA TOLICES NO RIO



A notícia não é nova, mas merece algumas linhas. A partir deste junho, cartões postais que exibam mulheres esculturais apenas de biquíni e que não realcem outro tipo de beleza que não as belas paisagens do Rio de Janeiro, são ilegais. O projeto de lei é da deputada estadual Alice Tamborindeguy (PSDB), mas foi elaborado inicialmente pela então governadora Rosinha Garotinho, de extração evangélica. A lei foi sancionada pelo governador Sérgio Cabral e publicada dia 29 de maio no Diário Oficial do Estado. O estabelecimento que descumprir a lei está sujeito a uma multa de R$ 968,60 e, em caso de reincidência, R$ 1.937,20. A penalidade vale tanto para quem vende quanto para quem produz os cartões-postais.

Essa agora! Na cidade mais despida do país, postal com mulher de biquíni é proibido. Segundo a deputada, as fotos dos postais incentivam o turismo sexual e a exploração da imagem da mulher, além de criarem, quando enviadas por turistas ao exterior, uma imagem negativa das cariocas. De sua lógica, deduz-se que se não mais forem vendidos postais com mulheres de biquíni diminuirá o turismo sexual. Mas desde quando turismo sexual é crime? Que legislação está ferindo um turista que viaja ao exterior em busca de sexo? É uma busca tão legítima quanto a de boa culinária, monumentos ou paisagens. Ou talvez turismo sexual seja pecado? Para uma governadora evangélica até pode ser. Ocorre que, em país que se pretenda laico, leis não podem punir pecados.

Para Tamborindeguy, "a gente tem tanta praia bonita, tanta paisagem, porque precisa haver mulher em traje sumário nesses cartões? A mulher brasileira não tem que ter chamariz, o que tem que ter chamariz é a paisagem". Mas e se o turista, em vez de paisagens, prefere mulheres? Se televisão, revistas e jornais enviam ao mundo todo imagens de mulheres – não de biquíni – mas nuas no carnaval, por que proibir mulheres de biquínis em postais? Ou terá o Brasil virado um emirado muçulmano?

Confesso não me agradar em nada a idéia de um Brasil representado pelo futebol ou carnaval, muito menos por mulheres de biquíni. Jamais me ocorreria enviar a alguém um postal com uma mulher nua ou seminua. Daí a proibir postais que sugiram sexo é censurar a imprensa, a expressão de pensamento. A Suécia dos anos 70 vendeu uma imagem de erotismo, pornografia e amor livre para atrair não só turistas como também mão de obra imigrante. Explorou a imagem da mulher sueca? Explorou. Incentivou o turismo sexual? Incentivou. Por acaso o país afundou por ter adotado esta política?

Você não encontra suecas se prostituindo em país algum do mundo. Quanto às brasileiras, estão vendendo seus corpos em todas as capitais da Europa. Não são postais que criam uma imagem negativa das brasileiras, mas as brasileiras que se prostituem no mundo todo. Melhor faria a deputada se lutasse por criar condições para que as brasileiras não mais precisassem se prostituir no Exterior. A mão-de-obra sexual nos países ricos é hoje em boa parte oriunda do Terceiro Mundo. Vergonha não são mulheres de biquíni. Vergonha é o país exportar mulheres que optam por vender seus corpos em busca de melhores condições de vida.

Falta do que fazer por parte da deputada. Se o ócio é a mãe de todos os vícios, como dizem as gentes, o ócio bem remunerado é o pai de todas as tolices.