¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, julho 30, 2009
 
AINDA SOBRE A
PERICULOSIDADE
DOS ORNITÓLOGOS



Caro Janer

Felizmente, para Curitiba, o macuquinho só serviu mesmo para atrasar um pouco as obras da Barragem do Iraí, que já a mesma está concluída e em operação. Mas que foi uma picaretagem das grossas, foi. Depois, descobriu-se que o tal passarinho, além de não sofrer qualquer ameaça, é também muito comum, pelo menos nos campos de Paraná e Mato Grosso do Sul. O resultado, além de render viagens aos EUA para os ornitólogos e elevá-los ao cargo de consultores (se bem me recordo, foram a Washington expor o caso ao banco financiador) só serviu mesmo para atrasar a obra e, acredito que isto deve tê-los deixado felizes, diminuir o lucro do malvado do empreiteiro que a executou. Lembro ainda mais dois casos.

1 - Os índios do Morro dos Cavalos, em Palhoça, Santa Catarina, que atrasaram a construção de um túnel nas obras de duplicação da BR-101, sob a alegação que tal obra iria prejudicar o seu comércio de artesanato.

2 - O papagaio-do-peito-roxo, que até hoje impede a completa duplicação do trecho paulista da Régis Bittencourt (Curitiba-São Paulo), lá pelos lados de Miracatu.

Saudações,

Ivo


Meu caro Ivo:

Em janeiro de 2007, dois simpáticos passarinhos ameaçados de extinção ilustraram uma reportagem na Folha de São Paulo, o papa-formigas-de-topete-branco e o rapazinho-carijó. Segundo estudo feito por cientistas brasileiros - e americanos, como não poderia deixar de ser - as unidades de conservação pequenas têm potencial limitado na conservação da biodiversidade na Amazônia quando se trata de espécies de pássaros. A conclusão é de um estudo de cientistas do Brasil e dos Estados Unidos, a partir de levantamentos feitos desde 1979 numa área desmatada perto de Manaus. Os cientistas tentam entender qual é fator mais crucial para a sobrevivência de espécies em um determinado fragmento de mata que tenha restado numa região desmatada. É mais importante que esse fragmento seja grande ou é mais importante que ele não esteja muito isolado de outros trechos de mata?

Seja qual for a conclusão, é óbvio que se opõe a qualquer iniciativa para desenvolver a região. "Fragmentos de cem hectares perdem a metade do número de espécies de ave em cerca de 15 anos", dizia o pesquisador, que alertava para um problema: "Para diminuir dez vezes a velocidade de perda, é preciso aumentar cem vezes a área". Ora, desde quando passarinho é prioritário ante um projeto de agricultura ou pecuária? Por outro lado, pássaros voam. Se um território tornou-se hostil, eles buscam outro. Pássaros migram. Não é preciso ser ornitólogo para saber disto. Quando migram, não migram a pé. Asas vão longe e a Amazônia é vasta.