¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, julho 30, 2009
 
BR-319 E AMAZÔNIA


Caro Janer,

Finalmente algo para discordarmos. Porque, para mim, o asfaltamento da BR-319 não deve ser levado adiante. Concordo que alguma forma digna de se chegar a Manaus que não seja pela água nem pelo ar precisa ser criada. Não há a menor dúvida. Mas que seja então uma ferrovia, conforme sugerido por todos os estudos de impacto ambiental apresentados até agora.

Explico. Não é a falta de estrada que isola Manaus. O que isola Manaus é a sua localização. Porque, em primeiro lugar, uma rodovia não vai tornar os produtos mais baratos - veja que o caminho até Rio Branco é asfaltado e o tomate não é mais barato por lá do que em Manaus por isso.

Também não vai melhorar o transporte de passageiros. Em que lugar do mundo se anda milhares de quilômetros de carro (ou pior, em ônibus balançando para lá e para cá) e não, majoriamente, de trem? Mais do que isso, imagine o custo da manutenção de uma estrada em uma região que chove (e chove e chove e não para de chover) que nem a amazônia brasileira. Vai ser uma luta interminável para ela não ficar intransitável novamente.

E, por último, uma estrada nova, na amazônia, leva consigo um rastro de devastação florestal ao seu redor. Logo aparece o gado, logo aparece a soja. E vai embora a floresta, causando impactos climáticos no mundo inteiro, matando a fauna e a flora que um dia poderiam render descobertas científicas e dinheiro. Não é esse modelo de desenvolvimento, terceiro-mundista, de produção barata de produtos sem valor agragado, que desejo.

A ferrovia, por não permitir que os infelizes desçam no meio do seu caminho e derrubem a floresta o quanto quiserem, diminui esse impactos. Mais do que isso: pela distância ser grande, no final os custos de frete e as passagens ficam bem menores do que se for feita uma ferrovia. Quando nossos avós eram piás já se sabia disso, sempre se soube.

A opção da ferrovia é uma realidade, já foi levantada várias vezes. Mas parece que pode acabar perdendo pro fator psicológico bobo de "precisamos de uma rodovia, todo mundo que se preze tem uma". Veremos.

Abraço,

Ricardo Mioto