¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, julho 30, 2009
 
CATADORES DE MACACOS
AMEAÇAM REFORMA DE
RODOVIA NA AMAZÔNIA



Há mais de três anos, comentei o perigo que os ornitólogos representavam para a economia de um país. A idéia que temos destes senhores é a de pacatos cidadãos que adoram observar essas maravilhas da natureza, os passarinhos. Até pode ser. Mas sempre é bom desconfiar quando ornitólogos apresentam um pássaro na televisão. Normalmente, há grossa sacanagem de ONGs e ambientalistas atrás disto. Até hoje estou recebendo bicadas de uma revoada de ornitólogos furiosos.

Nos dias em que vivi no Paraná, durante semanas foi vedete dos noticiários televisivos um pequeno pássaro, uma espécie de pardal, que estaria ameaçado de extinção. Chamava-se curiango-do-banhado e habitava nos arredores de Curitiba. Durante longos minutos, o bichinho era exibido em seus ângulos mais simpáticos, sempre com a mensagem: corre perigo de extinção. Ano seguinte, foi a vez de uma nova espécie de tapaculo, da família Rhinocryptidae, batizada com o nome popular de macuquinho-da-várzea. Também vivia nos arredores de Curitiba. Algumas semanas mais tarde se soube ao que vinham o curiango-do-banhado e o macuquinho-da-várzea. Para preservá-los, era preciso preservar seu habitat natural. E para preservar seu habitat natural, as tais de ONGs fizeram uma ferrenha campanha para impedir a construção de uma barragem que abasteceria a capital paranaense. Me consta que o projeto de barragem morreu na casca.

Tão ou mais perigosos que os ornitólogos são os ecólogos. Fabio Rohe, da Wildlife Conservation Society, de Nova York, especializou-se em catar macacos no Brasil para impedir o desenvolvimento do país. Em 2007, um grupo de cientistas liderados por este senhor, andou achando uma nova subespécie de macaco no Amazonas, batizado cientificamente como Saguinus fuscicollis mura. A descrição do animal foi publicada na revista científica International Journal of Primatology, em junho passado.

Segundo o Globo, o nome mura é uma homenagem aos índios muras, que viviam próximos ao lugar onde o macaco foi encontrado. A escolha, diz Rohe, serve para dar um alerta: “os mura foram muito prejudicados pelos brancos. De certa forma, eles representam a resistência da natureza ao mundo civilizado”.

Para onde aponta a nova descoberta? O mura foi encontrado entre os rios Madeira e Purus, justamente sob o traçado da rodovia BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM). A rodovia, que hoje está abandonada e intransitável, tem a reforma prevista no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). A obra aguarda apenas a licença do Ibama para começar, e ambientalistas afirmam que a estrada poderá trazer uma devastação sem precedentes para a região. Não é evidentemente por acaso que o símio, descoberto em 2007, só agora foi registrado numa revista científica, exatamente quando se planeja a reforma da rodovia.

Mas nem só os ecólogos ameaçam a rodovia. Os ornitólogos também voltaram à carga. Uma nova gralha foi descoberta adivinhe o leitor onde? Entre os rios Madeira e Purus, justamente no traçado da BR-319. Segundo o ornitólogo Mário Cohn-Haft, a ave – que ainda nem foi batizada - coloca seu ninho sempre próximo à margem dos campos, em capões de mata. Somando toda a área que pode ser ocupada pela espécie, concluiu-se que esse espaço é tão pequeno que a ave já pode ser considerada vulnerável à extinção.

Com a ocupação da estrada, essa ameaça torna-se real. “Só se precisa permitir que gente chegue perto para destruir o ambiente dela. O ser humano parece não saber conviver com campos naturais sem queimá-los. Os campos próximos à cidade de Humaitá, por exemplo, não hospedam a gralha porque queimam todo ano”, disse Cohn-Haft à reportagem do Globo.

“Todos os exemplos que temos de asfaltamento de estradas na Amazônia levaram a muita degradação ambiental. Não temos porque acreditar que neste caso será diferente. Só que ao longo da BR-319 perderemos animais e plantas que não ocorrem em nenhum outro lugar do planeta”, alerta o ornitólogo de alta periculosidade.

Uma gralha e um macaco ameaçam o asfaltamento de estradas no Brasil, isto é, a comunicação entre cidades e Estados, precisamente nas regiões mais desprovidas de recursos do país. Ornitólogos e ecólogos unidos jamais serão vencidos. Enquanto isso, o governo brasileiro assiste passivamente, de braços cruzados, a intervenção de fundações estrangeiras em obras fundamentais para o desenvolvimento nacional.