¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, agosto 17, 2009
 
DO QUAGLIO


Olá Janer,

Tenho acompanhado com algum interesse seu “diálogo” com os ecólogos. Muita coisa me vem à mente. Lembrei-me do Gorbachev, que, depois da queda da URSS, deixou de ser vermelho e se tornou verde. De fato, partidos políticos ou ONGs que ostentam em seus nomes e programas palavras e expressões como “ecologia”, “preservação ambiental”, ou “verde”, costumam ser a casa atual para velhos esquerdistas de todo gênero. Mas é curioso pensar que os comunistas, ao longo do século XX, foram responsáveis por desastres ambientais de proporções gigantescas, que prejudicaram indivíduos de diversas espécies animais, incluindo o tal Homo sapiens. Basta mencionar Chernobil ou o Mar de Aral.

Porém, quanto à discussão sobre ser ou não o homem melhor ou pior que outros animais, penso de forma diferente. Eu tenho como princípio pensar sempre em termos de indivíduos, e não de grupos. Procuro dar mais ênfase aos vícios e virtudes dos indivíduos. E posso te dizer que conheço dezenas de seres humanos que são muito piores do que qualquer animal que eu tenha conhecido. O ser humano, como você mencionou, construiu civilizações, cultura, ciência. Mas há indivíduos que merecem crédito por estas obras, por enriquecê-las, ou, pelos menos, por ajudar a preservá-las, e há indivíduos que vivem apenas para parasitar ou destruir a civilização. Falando de cultura, por exemplo, devemos lembrar que para cada bom músico na história humana, deve haver centenas de “funkeiros” ou similares. Confesso que não tenho em alta conta a espécie humana, de modo geral. Não admiro a humanidade, e sim indivíduos cujos méritos, longe de torná-los mais “humanos”, os distanciam do “homem médio”, que é mais representativo da espécie. A espécie dos cães, todavia, desperta minha admiração.

O que me aborrece é a associação imediata que se costuma fazer entre causas justas, como o combate à crueldade contra os animais, ou a preocupação com alterações climáticas, e a leviandade de esquerdistas “verdes”. Se sinto compaixão pelos animais, acho que estou bem acompanhado. É possível encontrar este sentimento lendo o verbete sobre animais do Dicionário Filosófico de Voltaire. Schopenhauer associava esta compaixão pelas bestas à bondade de caráter. E vejo com simpatia o gesto atribuído a Nietzsche, de defender um cavalo que estava sendo espancado por um cocheiro.

Um abraço,

Humberto Quaglio