¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, agosto 24, 2009
 
KARTIKA ESPERA
PELA LUA NOVA



“Dentro do Islamismo, álcool, drogas, cigarro e carne de porco são ilícitos e não devem ser consumidos nunca. Se um muçulmano fizer uso de algum desses itens, tem no Ramadã a oportunidade de se redimir e abandonar o uso”, diz o xeique Armando Hussein Saleh, da Mesquita Brasil, em São Paulo, e coordenador do Grupo de Estudo Islâmico Brasileiro. O ramadã começou sábado passado e deve estender-se até a próxima lua nova, em setembro.

Curiosas estas interdições alimentares. Lapidar uma mulher porque teve relações antes de casar-se ou as teve com outro homem que não seu amo e senhor é perfeitamente permissível. Já comer um inocente leitãozinho ou tomar um cerveja constituem ofensas a Alá. O que me lembra episódio curioso que assisti em Lyon, na França. Um gaúcho gaudério que por lá andava, costumava oferecer de vez em quando um churrasco a seus colegas de estudo. Entre eles, havia um marroquino. Certa vez, decidiu assar um leitão. Para não excluir o Ahmed da festa, disse que era cordeiro. O árabe se deliciou com o churrasco. O gaúcho decidiu então contar-lhe a verdade. Ahmed correu para o pátio para vomitar. Ou seja, a carne foi saborosa. Bastou saber que era de porco, tornou-se emética.

“No Ramadã – diz o xeique Saleh –, o muçulmano deve se abster de água, comida, sexo, desavenças, intrigas e tudo que possa desagradar os ensinamentos de Alá. Esse período vai do alvorecer ao crepúsculo, quando se quebra o jejum. O período tem por objetivo ensinar aos muçulmanos a disciplina, boas ações e a caridade, bem mais do que em qualquer outro mês do ano. A abstenção da comida e bebida de nada adianta sem lapidar sua conduta e sua paciência e sem deixar de lado as mentiras e imoralidades”.

Este período, repleto de boas ações e caridade, será pelo jeito a salvação - temporária – de Kartika Seri Dewi Sukarno, cidadã da Malásia, de 32 anos e mãe de dois filhos. Em 11 de dezembro de 2007, Kartika foi detida pela polícia por ter bebido uma cerveja com amigas em um hotel de Pahang. Está condenada a seis chicotadas. Ora, o álcool é proibido a todo crente. Jamais tive notícias de que algum macho muçulmano fosse açoitado por ter bebido álcool. E se uma mulher ousa beber uma cerveja em pleno universo islâmico, é óbvio que os homens deverão beber cerveja e mais um pouco.

Num ímpeto extraordinário de generosidade, as autoridades da Malásia – em nome dos propósitos de caridade durante o ramadã – decidiram postergar a punição da moça. Até a próxima lua nova, Kartika será poupada das seis chicotadas, por ter cometido o abominável crime de beber uma cerveja.

Mal a lua nova ressurgir no horizonte, a pecadora será açoitada com gosto pelas autoridades, para escarmento das demais muçulmanas.