¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, agosto 15, 2009
 
MACACO NÃO TEM
PONTO DE VISTA



Não sei o que me diverte mais, se cutucar católicos ou ecólogos, ornitólogos et caterva. Comunista já não tem graça xingar. Vinte anos depois da queda do Muro, exceto alguns delirantes, eles enfiaram o rabo entre as pernas e já nem ousam pronunciar a palavrinha que os distinguia dos demais míseros e ignaros mortais. Petista tampouco. Perderam não só ideais como qualquer resquício de vergonha.

Petistas, estes sim, são espécimes em extinção. Ecólogos e ornitólogos deviam, a meu ver, preocupar-se mais com essas aves raras de tão curta existência do que com os curiangos e macuquinhos que, afinal, tiveram maior permanência no tempo. O PT, aquele partido que há vinte anos defendia os direitos humanos, igualdade, socialismo e revolução, virou um grande PMDB, que agora defende Sarney, turismo na Europa às custas do contribuinte, atos secretos e mensalão. Assim, para meu lazer, só me restam os católicos, ecólogos e ornitólogos.

Se pretendem defensores da liberdade, mas são visceralmente totalitários. Os católicos existem há quase vinte séculos e ainda não perderam os tiques da Inquisição. Ecólogos são mais recentes, existirão há três ou quatro décadas, mas não perderam os tiques do stalinismo. Uns e outros querem abafar qualquer opinião contrária. Quando eu escrevia no jornal católico-astrológico Mídiasemmáscara, tanto astrólogos como papistas exigiram minha cabeça. Não levaram, porque abandonei o barco antes. Tive um artigo censurado e não admito censura nestes dias de Internet. Caí fora.

Agora são os ecólogos e passarinhólogos a exigir minha defenestração. Como seria absurdo pretender censurar-me em meu blog, sugerem expulsar-me do Baguete, onde assino crônica semanal há vários anos. Quando escrevi sobre os catadores de macacos que estão ameaçando a revitalização de uma rodovia, recebi dezenas de protestos. Nenhum discutia o mérito da questão. Fui desqualificado como ignorante, preconceituoso, desinformado e insultos do gênero. Em momento algum se discutiu a crucial questão se a existência de um macaco pode ser motivo para vetar uma rodovia que une cidades e seres humanos. Os ecólogos parecem ter aprendido muito com a advocacia dos corruptos. Tudo é discutível, menos o mérito da questão. Escreve um leitor:

Realmente é admirável, ou melhor, lamentável, como ainda há pessoas com esse tipo de pensamentos e falta de capacidade para entender a atual crise ambiental na qual vivemos. E mais admirável ainda que essa pessoa possa publicar um artigo de tanta baixa qualidade aqui.

Ao que faz uníssono um outro:

Seus editores arriscam a credibilidade de seu jornal em deixá-lo escrever o que pensa.

Traduzindo: não permitam mais os editores que o Janer continue escrevendo no jornal. Assim como um juiz bom e barato conseguiu impedir o Estadão de denunciar as falcatruas de um filho do Sarney, os aguerridos e democráticos e humanistas ecólogos pretendem que eu seja proibido de denunciar seus delírios apocalípticos.

Mas o que mais me divertiu não foi este propósito de censura, e sim uma singela pergunta da leitora Andrea Ramos Santos:

Por acaso os seres humanos são melhores e mais especiais do que o restante da natureza?

Para a Andrea, não sei. Para mim a resposta é óbvia. Claro que nós, seres humanos, somos melhores. Fomos nós que construímos cidades e civilizações, cultura e arte, ciência e tecnologia. Os macacos continuam pendurados pelo rabo, saltando de galho em galho, vivendo de caça e coleta. O ser humano construiu casas, prédios, domesticou sementes e animais, desenvolveu agricultura e pecuária. Construiu fortes e muralhas para defender seus territórios. Em suma, utilizou seu engenho para perpetuar sua espécie. Os ecólogos defendem espécies em extinção. Mas que fizeram tais espécies para permanecer no tempo? Nada. Algum macaco construiu uma muralha para defender sua raça? Não construiu. Não é portanto de estranhar que se extingam. Hoje, quando conseguem escapar da extinção, é graças aos esforços destes seres que a leitora acha que não são melhores e mais especiais do que o restante da natureza.

Não faltou uma antropóloga desvairada, creio que nos anos 70, que pretendia conferir personalidade jurídica aos gorilas. A meu ver, os gorilas não foram consultados. Não sei se prefeririam submeter-se aos direitos e deveres que uma personalidade jurídica implica, tais como trabalhar para ter direito a um salário, suar o topete para garantir saúde e habitação, submeter-se às normas do Direito de Família para constituir prole e incomodações outras típicas do Homo sapiens. Sem ser gorila e portanto sem conseguir pensar como pensaria um gorila – se capaz de pensar fosse – intuo que aqueles primatas prefeririam continuar pastando tranqüilamente em suas selvas do que submeter-se à condição de um cidadão cercado por direitos, mas também por deveres.

Milhões de espécies foram para o beleléu, sem interferência alguma do ser humano. Onde estava o ser humano quando os grandes sáurios sumiram da face da terra? Os seres humanos ainda nem estavam.

Eu sou melhor, sim senhora, e bem mais especial que qualquer macaco, curiango-do-banhado ou macuquinho-da-várzea. Se você não se acha melhor, nada posso fazer. Beira o ridículo ter de discutir tal obviedade. Claro que é o meu ponto de vista. Outro seria o ponto de vista dos macacos, suponho.

Ocorre que macaco não tem ponto de vista.