¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, agosto 17, 2009
 
NOVA RELIGIÃO


Como escrevi há pouco, Quaglio, tornou-se ridículo falar em lutas de classes. Fala-se agora em proteção da fauna. É a nova fórmula que as esquerdas encontraram para combater o pérfido capitalismo, sem empunhar bandeiras esfarrapadas pelos ventos do século. Todo comunista, de 89 para cá, virou ecologista. Logo eles que conseguiram o feito de destruir um mar. Feito que não é para qualquer mortal.

Há uns bons dez anos, escrevi que quem viu muito bem o vazio de fé que assolaria o Ocidente foi o cineasta italiano Nanni Moretti, em Palombella Rossa. O filme é de 89, significativamente o ano em que caiu o Muro de Berlim. A história tem como personagem principal um deputado comunista que, do dia para a noite, perdeu a memória.

A cena final é emblemática: em uma auto-estrada, centenas de jovens correm para saudar o sol. Está inaugurada a nova religião, o culto da natureza. Religião mesmo. As reações que tenho observado em relação às minhas últimas crônicas, não são reações de pessoa sensata, mas de fanáticos religiosos.

Quanto aos “indivíduos que vivem apenas para parasitar ou destruir a civilização”, bom, o mundo animal, como também o vegetal, está cheio de parasitas. Alguns espécimes, mais inteligentes, praticam a simbiose. Quando olhamos de longe o mundo animal, tudo parece harmonia. Olhando de perto, a realidade é mais brutal. O leão sobrevive destroçando as carnes das gazelas. As hienas se alimentam de filhotes indefesos de animais. Os rapaces só vivem às custas de outras espécies. Se eu mato um animal, hoje, estou incurso em algum crime. Se um animal mata outro animal, faz parte da vida. O ser humano, pelo menos, chegou a erigir um sistema jurídico, que proíbe matar.

Quando falo do homem que construiu civilizações, cultura, ciência, estou falando da espécie humana. Nenhuma outra espécie fez tanto. As abelhas chegaram no máximo à colméia, as formigas ao formigueiro. O joão-de-barro é muito engenhoso, mas conhece um só tipo de arquitetura. Bem entendido, não faltaram homens que destruíram civilizações, culturas e ciência. Os que mais se empenharam nisto foram precisamente os católicos e os comunistas, os antecessores dos novos crentes, os sedizentes ecologistas.