¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, agosto 17, 2009
 
CRISTO MORREU TAMBÉM PELOS CÃES *


Um livro sóbrio e penetrante sobre um tema o mais das vezes tratado com sensibilidade desbragada e superficial. Escreve-se sobre o animal para situá-lo em relação ao homem, mas é bastante raro que os cristãos ultrapassem o estágio da poesia franciscana para chegar a uma espécie de teologia da natureza animada.

Deixemos de lado os esforços conduzidos atualmente por uma liga internacional para chegar à elaboração de uma carta dos direitos animais: a obra de Michel Damien ultrapassa em todos os pontos esta tentativa. Situa-se sobre um plano especificamente religioso e isto é o que a torna original.

A solidariedade do homem com o animal não é somente biológica, natural, ela é ontológica, transcendental, evangélica. O Cristo morreu também pelos cães. A Igreja Católica está infelizmente ausente deste debate. Os animais não receberam status algum de sua parte. No entanto, se o animal não tem a noção de Deus, ele tem em contrapartida a do homem, que foi feito à imagem de Deus. Por outro lado, os animais nos precederam sobre a Terra e deles nós somos, de uma ou de outra maneira, tributários.

“Eles nos esperam sobre o caminho do Cristo”. Eles são nosso próximo. Seu sofrimento misterioso é uma “é uma “participação das Beatitudes. Há um Evangelho do animal, que também morre nos braços de Deus”. O animal tem isto em comum com o Cristo que morre pelo mundo e cujo sacrifício é indispensável ao equilíbrio deste mundo.

O autor não tem a ingenuidade de certos vegetarianos. O destino do animal está ligado a um imenso e necessário holocausto. A Bíblia afirma que os animais serão entregues às mãos do homem, que os matará, como fez com o Cristo. A Arca de Noé é a imagem da nau (Igreja) na qual estamos todos embarcados.

Em suma, o animal está inserido num movimento religioso universal que é uma ascensão rumo a Deus. Um manuscrito bíblico copta – apócrifo – relata que o Cristo tomou a defesa de um animal de tração golpeado até o sangue e que ele amaldiçoou aqueles que o golpeavam.

Michel Damien conclui: “o tempo da excomunhão da natureza é passado. Nós estamos agora em uma era onde o ecumenismo se torna planetário. A unidade dos seres vivos se realiza com o Cristo”.


* L’ANIMAL, L’HOMME ET DIEU, de Michel
Damien. Editions du Cerf, 216p., 45 F.