¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, setembro 08, 2009
 
REMEMBER PARACUELLOS DEL JARAMA


Ao longo destas crônicas, toda vez que alguém escreve que o quadro Guernica, de Pablo Picasso, é uma homenagem os mortos durante o bombardeio da cidade basca de Guernica, procuro desmascarar o embuste. Picasso havia pintado uma tela de oito metros de largura por três e meio de altura, intitulada La Muerte del Torero Joselito, plena de cores fúnebres, que iam do preto ao branco, em homenagem a um amigo seu, o toureiro Joselito, morto em uma lídia. O quadro ficara esquecido em algum canto de seu ateliê. Ao receber uma encomenda para o pavilhão republicano da Exposição Universal de Paris de 1937, Picasso lembrou do quadro. Foi quando, para fortuna do malaguenho, em 26 de abril daquele ano, a cidade de Guernica foi bombardeada pela aviação alemã. Ali estava o título e a glória, urbi et orbi.

Uns retoques daqui e dali, e Picasso deu nova função ao quadro. No entanto, multidões hipnotizadas pela propaganda comunista, vêem em uma cena de arena, com cavalo, touro e picador, uma homenagem aos mortos de Guernica. De um só golpe de pincel, o vigarista malaguenho traiu a memória do amigo e mentiu para a História.

Mas não era disto que queria falar. E sim de Paracuellos del Jarama. Que poderia ter sido melhor homenagem de Picasso aos assassinados na Guerra Civil Espanhola. Pois em 1936, em Paracuellos del Jarama, sítio que ninguém gosta de lembrar, foram fuzilados pelo Partido Comunista nada menos que dois mil e quatrocentos espanhóis que se opunham à Frente Popular. Há quem fale em cinco mil. Outros em oito mil. À frente do PC espanhol estava Santiago Carrillo.

Em seu ensaio La Guerra Civil Española, o historiador Hugh Thomas fala em 1654 mortos em Guernica. Na segunda edição do livro, teria reduzido a 200 este número. Mas há quem negue a ocorrência do bombardeio. Por exemplo, o professor americano Jeffrey Hart, que publicou em janeiro de 1973, no National Review, o estudo intitulado The Great Guernica Fraud, onde sustenta a tese de que bombardeio de Guernica não ocorreu. O artigo foi reimpresso nos jornais Die Welt e Il Tempo.

Em Paracuellos a matança é plenamente confirmada por historiadores e foi bem mais feia que o suposto bombardeio de Guernica. Entre 7 de novembro e 4 de dezembro de 1936, militares que haviam participado do levante franquista ou que não haviam se incorporado aos comunistas, falangistas, religiosos, militantes de direita, cidadãos comuns e outras pessoas que haviam sido detidas por serem consideradas partidárias da sublevação, foram retiradas das prisões, atadas pelos punhos e conduzidas em ônibus e caminhões e conduzidas às margens do Jarama, onde foram sumariamente fuziladas.

Claro que Picasso não poderia batizar seu embuste como Paracuellos del Jarama. Seria expulso da História e permaneceria desconhecido como pintor. Enfim, retomo esta história toda em função de notícia que leio no El País. O juiz espanhol Baltasar Garzón foi citado hoje ante o Supremo Tribunal, na qualidade de acusado de delito de prevaricação na causa sobre os crimes do franquismo. Seu delito seria ter tomado resoluções injustas tendo plena consciência de que eram injustas.

A decisão de citar Garzón ocorreu um dia depois de a Comissão Internacional de Juristas – formada por 59 presidentes e ex-presidentes de Cortes Supremas, magistrados e advogados de Estados membros da ONU – advertir o juiz de que a causa aberta contra o franquismo “não justifica ações penais nem disciplinares”.

A denúncia contra o juiz foi interposta pelo movimento Manos Limpias, que censura Garzón por não instruir um processo contra Santiago Carrillo pelos fuzilamentos em Paracuellos del Jarama.

Pelo jeito, almas não contaminadas pela amnésia finalmente retomaram o episódio da matança executada pelos comunistas.