¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, outubro 18, 2009
 
FARTURA EM CUBA
ESTÁ POR ACABAR



Mais de 70% dos cubanos vivem sob o sistema de racionamento, em vigor desde 1962, quando nasceram. Uma caderneta – libreta, como se diz por lá – garante a cada cubano, por mês:

- 3,5 quilos de arroz. Ou seja, 116 gramas por dia.
- 2,5 quilos de açúcar. O que me parece demais. Aqui em casa, não tenho sequer um grama de açúcar por mês. Nem por ano. Coisas da monocultura. A propósito, uma amiga petista reclamava outro dia que o Lula quer transformar o Brasil num grande canavial. Bom... mas e Cuba? – perguntei. Ela reagiu: estou falando do Brasil. Quando falo do Brasil tu sempre vens com essas comparações. Isto é, comparar não pode.
- meio quilo de feijão.Quer dizer, 16,66666... gramas por dia. Dá dízima periódica.
- 230 gramas de azeite. Dízima periódica de novo. 7,66666... gramas por dia.
- dez ovos. Coincidência, mais uma dízima. 0,333333... ovo por dia.
- 460 gramas de espaguete. De novo: 15,333333... gramas por dia.
- 230 gramas de picadinho de soja. Outra dízima: 7,666666... por dia.
- 115 gramas de café. Mais uma vez: 3,8333333... por dia.
- um pão por dia. Finalmente uma unidade. Se você tiver três filhos, divida-o em cinco pedacinhos.

No país da dízima periódica, o salário médio é de 415 pesos, o que dá uns 33 reais por mês. Um mendigo no Brasil que consiga juntar cinco reais por dia, ganha cinco vezes mais que um médico em Cuba. A caderneta mal dá para doze dias. Papel higiênico, ni pensar. Para isso existe o vibrante matutino nacional, o Granma.

Mas essa fartura toda vai acabar. Leio no El País que, em meio à atual crise, a libreta se tornou um fardo por demais pesado para o governo de Raúl Castro (o irmão daquele outro), que tenta organizar um modelo de economia ”sustentável” baseado na lógica dos números e não em sonhos impossíveis.

Cuba importa mais de 80% dos alimentos que consome. Ou seja, o tal de socialismo dos Castro não consegue sequer alimentar os cubanos. Nas atuais circunstâncias, a subvenção dos produtos da libreta significa um custo e 800 milhões de dólares para o Estado. A conta não fecha.

Desde que assumiu formalmente o poder, em 24 de fevereiro de 2008, Raulito tem declarado que a libreta de racionamento, da mesma forma que outras “gratuidades e subsídios milionários” – imagine! – são irracionais e insustentáveis. “País nenhum pode gastar indefinidamente mais do que o que recebe” – disse em várias oportunidades.

Qualquer dia, acabam redescobrindo a América.