¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, outubro 15, 2009
 
IN MEMORIAM DOM ANTONIO


Morreu ontem, aos 82 anos, Dom Antonio Cheuiche, bispo emérito de Porto Alegre. Foi um de meus raros bons professores, no Curso de Filosofia da UFRGS. Fiz dois anos de Filosofia da Arte com frei Cheuiche. Homem de uma erudição extraordinária, cursou teologia em Burgos, na Espanha, e fez filosofia e letras pela Universidade de Madri. Licenciou-se em Filosofia pela Universidade Complutense e fez curso de especialização em Freiburg am Breisgau, na Alemanha, mais um curso de alemão na Universidade de Viena. De certa forma reduzia a cultura à pintura. Muito antes de ter trinta horas de aula no Prado, eu já conhecia boa parte do acervo do museu. Mais tarde, descobri porque. Cheuíche, em seus dias de jovem em Madri, havia sido guia de turistas no Prado.

Estudantes de Filosofia, não entendíamos como um homem culto podia crer em Deus. Perguntei um dia a frei Cheuíche: e se um dia você descobrir que Deus não existe? “Aí minha vida perderá todo sentido” – respondeu-me.

Homem corajoso, de uma dignidade comparável a fray Luís de León, quando a ditadura militar expurgou uma boa dezena de professores do curso de Filosofia, Cheuiche se demitiu em solidariedade a seus colegas. Saí de Porto Alegre, fui correr mundo, e perdi contato com Dom Antonio. Certa vez, de volta a meus pagos, passando pelo Palácio Piratini, eu o ouvi arengando em uma missa em praça pública, no melhor estilo da Teologia da Libertação.

Foi um momento triste. O homem se havia rendido à guerrilha comuno-católica. Seja como for, não posso deixar de render tributo ao excelente professor que tive.