¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, novembro 04, 2009
 
FÉ E CIÊNCIA


Me escreve Francisco José de Queiroz Pinheiro;

Bom dia, Janer,

Sobre o assunto de hoje tenho uma pequena mas fundamental discordância: para ensinar uma teoria científica não é preciso crer nela, basta conhecê-la. Uma teoria científica é apenas uma proposição explicativa de algum fenômeno estudado, por isso nem do proponente se exige que acredite ou deixe de acreditar em qualquer coisa, a começar de sua proposição. Exige-se apenas que apresente as evidências em favor de sua tese. Por isso mesmo, o próprio Darwin não se viu obrigado a rejeitar sua fé.

Teorias que dizem que as religiões são a causa dos males do mundo são extremamente questionáveis, em especial as que apontam a fé como obstáculo à ciência. Para mim, as concepções céticas da realidade, como o ateísmo, são muito mais prejudiciais à ampliação do conhecimento do que o sentimento de fé, que impulsiona as pessoas em direção a objetos transcendentes, a literatura, a ciência, a filosofia entre eles.

Por último, a ciência ainda não conseguiu reunir provas da existência ou não-existência de Deus. Dawkins, em seu livro Deus, um Delírio, defende que a probabilidade da não-existência é maior do que a da existência. Defende mas não prova. Ele não se dá conta de que o argumento é um libelo pela existência de Deus. Ora, se a probabilidade de Deus existir é menor que a de ele não existir, significa que Ele existe com certeza, pois Deus, por definição, é infinito. Além do mais, é visível a simpatia dele, Dawkins, pelo deísmo, segundo o qual Deus existe, é o criador do universo, mas abstém-se de nele interferir. Outro libelo em favor das religiões.

Ora, se Deus existe, Ele não está sujeito, por definição, a nenhuma lei de não-interferência. No mínimo já pré-definiu todas as trajetórias, como defendiam Newton e o Marquês de La Place.

Com todo o respeito, Francisco.


Meu caro Francisco José:

Sou ateu, mas jamais discuto a existência ou não existência de Deus. É discussão inútil. Quem tem fé tem fé e contra a fé não existem argumentos. Discuto, isto sim, - e gosto de discutir - as características daquele deus horrendo que a Bíblia nos mostra. E que faria um favor à humanidade se não existisse.