¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, dezembro 20, 2009
 
Os deuses precursores (II):
AGNI E MITRA



Continuo a relação dos mitos compilada por Ana Martos. Segundo a autora, encontramos mais um mito precursor nos Veda, os livros sagrados da Índia revelados pelo próprio Brahma e compilados por Vyasa, que datam do século XIV antes de nossa era. Traduzo.

Agni nasceu no 25 de dezembro, solstício de inverno, tendo sido sua vinda anunciada ao mundo por uma estrela no firmamento. Desde então, quando reaparece, os sacerdotes anunciam a boa nova ao povo e repetem o rito do descobrimento do fogo, esfregando os lenhos cruzados, até que surge a chispa como uma criatura celestial que colocam sobre palhas para que prenda fogo. Os sacerdotes levam até o berço de palha uma vaca que leva a manteiga e um asno que leva o soma, um licor alcoólico de cor dourada, com os quais alimentam a pequena chama, à qual chamam criatura.

No ritual, os sacerdotes lhe oferecem pão e vinho e cada fiel recebe uma pequena partícula da oferenda, que contém parte do corpo de Agni, nome que se transformou em Agnus, cordeiro em latim, no contato com o povo romano. O cordeiro que se oferece a Deus como vítima propiciatória pela redenção dos homens, o cordeiro de Deus, Agnus Dei.

O nome de Agni significa “unção”, que em grego se diz “cristnos”, de onde procede “cristo”, o “ungido”, o Messias judeu e cristão dito em grego, porque em hebraico se diz mashiakh, que se translitera como messias. Os dois lenhos cruzados são a cruz onde se gera o fogo, o Sol, que é a origem do deus segundo o dogma ariano de uma trindade composta pelo Sol, pai celeste; o fogo, encarnação do Sol e o espírito, sopro de ar que acende a chama.

Nos conta a autora que a Índia teve um outro deus, não tão importante, mas que passou ao panteão persa – e depois ao romano – com todas as características de um deus principal. Seu nome era Mitra, também chamado o Senhor, e fez nascer com suas flechas a fonte eterna do batismo, já na Pérsia. Nasceu de mãe virgem, em um 25 de dezembro, a festa mais importante da religião dos magos persas. Seu nascimento foi anunciado por uma estrela que apareceu no Oriente e os magos acudiram a adorá-lo, levando-lhe perfumes, ouro e mirra. Mitra morreu no equinócio da primavera, em março, para ressuscitar triunfante no terceiro dia.

Na religião mitraica, que primeiro foi hindu, logo persa e finalmente foi adotada por Roma como religião oficial, Mitra, que originalmente foi o ministro principal do deus Ormuz, venceu o touro que simbolizava a vida, arrastou-o a uma cova e lá o degolou para beber seu sangue, porque de seu sangue surgiu a vida e de sua carne se originaram todos os animais e todas as plantas. Por isso, Mitra se converteu em criador do universo e, ao mesmo tempo, em mediador entre Ormuz e o ser humano.

Os ritos de iniciação nos mistérios de Mitra incluíam batizar o neófito com sangue de touro sacrificado em um lugar mais elevado, de onde o sangue manava para banhar o iniciado. A iniciação começava com o batismo e terminava com a comunhão, em que se consumia a carne do touro com água, pão e vinho. O pão e o vinho se consagravam previamente com uma fórmula mística que os converteria em corpo e sangue do deus. O culto de Agni surgiu 1400 anos antes de nossa era.

Qualquer semelhança com aquela outra história não é mera coincidência.