¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, dezembro 19, 2009
 
Os deuses precursores (I):
JEZEUS CRISTNA



Desta última viagem, voltei com alguns livros daqueles que não encontramos aqui. Destaco dois. De Karen Armstrong, minha teóloga predileta, Los Orígenes del Fundamentalismo en el Judaísmo, el Cristianismo y el Islam. Armstrong, eu a conheço desde há muito e tenho boa parte de suas obras em minha biblioteca. O outro livro foi Pablo de Tarso, ¿Apóstol o Hereje?, de autora espanhola que desconhecia, Ana Martos. Apesar de alguns lapsos, como falar da existência de três reis magos na Bíblia – o Livro fala apenas de magos, jamais diz que são reis e muito menos que são três – Martos faz importantes reflexões sobre as origens do cristianismo e sobre a heresia de Paulo.

Para começar, segundo a autora, os poemas e livros sagrados hindus, que narram o mito do primeiro casal que desobedeceu e foi expulso do paraíso terrenal do Ceilão, afirmam que Brahma finalmente os perdoou, mas que, posto que era um deus, conhecia de sobra a natureza humana e soube de antemão que continuariam pecando e ofendendo-o, porque o mal já havia entrado no mundo e não era fácil tirá-lo dali. Por isso, decidiu enviar Vischnu, a segunda pessoa da Trindade, para que se encarnasse no ventre de mulher mortal e redimisse o gênero humano do mal e da morte eterna. Vischnu se encarna mais de uma vez. Sua oitava reencarnação foi Cristna, e a nona, Buda. 3500 anos antes de nossa era, Cristna nasceu de mãe virgem, tendo sido profetizada sua vinda ao mundo pelos livros santos. Acho que o leitor já conhece história semelhante.

Adelante! A concepção da mãe de Cristna foi marcada pelo divino. Vischnu apareceu em sonhos a uma mulher justa e boa chamada Lakmy, que esperava um filho, advertindo-a que daria luz a uma filha, que seria eleita por Deus para ser mãe do futuro redentor do mundo. A criança deveria chamar-se Devanaguy e não deveria conhecer varão, mas permanecer virgem e entregue à oração.

Anos depois, Cristna foi concebido milagrosamente durante uma cena mística, na qual Devanaguy entrou em êxtase enquanto orava fervorosamente, ofuscada pela luz e esplendor do espírito divino que se encarnou em seu ventre. Mas Rausa, tirano e tio de Devanaguy, foi advertido em sonhos de que a criança que nasceria de sua sobrinha o destronaria algum dia e a encerrou em uma torre.

Nove meses depois chegou o momento esperado do parto e, ao primeiro gemido de dor da parturiente, um forte vendaval a elevou milagrosamente e a transportou até a cova do pastor Nauda, onde nasceu um menino a quem deram o nome de Cristna.

Todos os pastores acudiram a adorá-lo e a atender a mãe e o filho, mas Rausa soube que a criança havia nascido fora de sua prisão e, enfurecido, mandou degolar todos os meninos que tivessem nascido naquela noite. Devanaguy recebeu a advertência celestial e fugiu com o menino para colocá-la a salvo da degola, quando os soldados do tirano se aproximavam perigosamente.

Passaram-se os anos e Cristna, a criança celestial, cumpriu dezesseis. Chegou então o momento de abandonar a proteção materna para percorrer a Índia e predicar uma nova moral. Uma moral que a todos impactou, porque se atreveu a proclamar a igualdade entre os homens e inclusive, com coragem, entre as castas hindus, algo que ninguém até então havia sido capaz de mencionar. E não só isso, mas também pôs em destaque a hipocrisia dos sacerdotes brâmanes, o que lhe valeu sua ira e suas contínuas perseguições.

Quando foi necessário, Cristna realizou o milagre de curar enfermos e leprosos, fazer andar os paralíticos, devolver a visão aos cegos e inclusive ressuscitar os mortos. Muita gente o seguiu porque sua doutrina falava de bondade, de ajudar e amar-se mutuamente e de socorrer os frágeis e inválidos. Ensinou que é preciso amar aos demais como a si mesmo, que é melhor devolver bem por mal e que a melhor forma de viver é praticar a caridade e todas as virtudes.

Disse ter vindo ao mundo para redimir os homens do pecado de seus primeiros pais, rodeou-se de discípulos que continuariam seu trabalho e ensinou sua doutrina através de parábolas. Certa ocasião, Cristna teve de repreender o principal de seus discípulos, Ardjuna, por sua escassa fé, já que ele e outros seguidores entraram em pânico quando sentiram aproximar-se os esbirros do tirano. Mas Cristna soube infundir neles novo ânimo, mostrando-se com todo seu divino resplendor da segunda pessoa da Trindade divina. Após sua transfiguração, seus discípulos começaram a chamar-lhe Jezeus, que significa “nascido da essência divina”.

Quando soube que havia chegado sua hora, retirou-se a um lugar para rezar, proibindo a seus discípulos que o seguissem. Submergiu no rio Gânges e logo ajoelhou-se às suas margens, recostando-se a uma árvore e esperando sua morte. Enquanto rezava, chegaram os soldados do tirano e os esbirros dos sacerdotes e um deles feriu-o com uma flecha. Para que terminasse de morrer, o dependuraram em uma árvore para que o devorassem os animais selvagens.

Seus discípulos o procuraram ansiosos quando souberam de sua morte e correram para apanhar seus restos, mas nada encontraram porque o filho de Deus havia ressuscitado e voltado aos céus.

Isto aconteceu 3500 anos antes de nossa era. Qualquer semelhança com aquela outra história não é mera coincidência. Continuo amanhã o relato feito por Ana Martos sobre os demais mitos anteriores ao cristianismo.