¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, dezembro 14, 2009
 
SÃO PAULO RECONHECE BANTUSTÕES


Em 1996, quando Michael Jackson gravou um clipe favela Santa Marta, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, houve um certo escândalo na imprensa nacional. Foi preciso negociar com os traficantes locais para poder gravar no morro. O governo carioca ficou irritado por considerar que isso era uma publicidade negativa para a cidade.

Isso em 96, há treze anos. Hoje, há um turismo organizado nas favelas, para europeu ver, que depende da autorização não da autoridade policial, mas de traficantes. Autorização que dá mais segurança ao turista que do que a autorização do Estado. Pois o Estado há muito não manda nas favelas. Quem manda são os traficantes. Os traficantes oferecem mais segurança que qualquer polícia. Se antes o Estado hesitava em reconhecer este poder, hoje tornou-se mais realista: reconhece-o abertamente.

Leio no Estadão: "Para fazer o cadastro dos moradores das 16 favelas às margens do Córrego Água Espraiada, na zona sul de São Paulo, 65 laptops passam informações em tempo real para uma central na Secretaria Municipal de Habitação. Cartões magnéticos com dados detalhados e fotos das famílias são confeccionados para certificar a propriedade das moradias. Tanta tecnologia de nada adiantaria, contudo, se o batalhão de 240 assistentes sociais e pesquisadores não tivesse jogo de cintura para estabelecer uma relação de confiança com líderes comunitários e para obter o respaldo de traficantes locais - que garantem a segurança dos trabalhos".

O Estado aceita um novo interlocutor, o traficante. Ou seja, há – e desde há muito - um poder paralelo nas favelas. Pelo que leio, é a primeira vez que um jornal admite a existência deste poder. Poder que tem mais poder que o Estado. E nisto estamos. São Paulo reconhece a existência de bantustões no Brasil.