¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

quinta-feira, janeiro 14, 2010
 
CHINÊS PODE

Tenho comentado a omissão da imprensa francesa – e não só francesa – em indicar a etnia ou nacionalidade de um criminoso... quando este é árabe, negro ou muçulmano. Até agora, por exemplo, jornal algum apontou as origens dos imigrantes e filhos e netos de imigrantes que queimam milhares de carros a cada ano. Só nesta passagem de ano, 1137 carros foram queimados. A cifra em pouco difere do réveillon passado, 1147 carros reduzidos a carcaças. Nenhum pio da imprensa sobre a identidade dos responsáveis.

Quem são estes arruaceiros? Todo francês sabe quem são. É o argelino que sai de sua villaya, o negro que sai de sua tribo, o árabe que virava o traseiro pra lua para adorar Alá e agora vive em uma sociedade laica. É o muçulmano que se sente castrado se não corta o clitóris de uma menina e agora descobre que, no Ocidente, cortar clitóris é crime. Perdidos em um país desenvolvido e com outros valores, outra dinâmica, cortam os laços com suas culturas primitivas e não conseguem adaptar-se à nova cultura, nem mesmo decifrar seus códigos. Mesmo que tenham passaporte francês, mesmo que pertençam à segunda ou terceira geração de imigrantes, caem em um limbo cultural. Já não são árabes ou africanos, mas também não são franceses. Daí o ressentimento, que se traduz em violência.

O que me espanta, no fundo, não é esta violência. Ela é inteligível, embora isto não a justifique. Difícil de entender é o silêncio da imprensa. Hoje, em praticamente toda a Europa, quando um criminoso é negro, árabe ou muçulmano, suas origens são omitidas. Se for cidadão do país, seu nome vai com todas as letras para o jornal.

Objetou-me um leitor: mas como podes estar seguro de que entre os vândalos não estão loirinhos de olhos azuis, de boa cepa francesa? Ora, quem me dá esta segurança é a própria imprensa francesa. Se entre os vândalos estivessem os loirinhos de olhos azuis, de boa cepa francesa, eles seriam prontamente identificados. Se não são, é porque a imprensa não conseguiu encontrar loirinhos de olhos azuis, de boa cepa francesa entre a chusma de bárbaros. Y a las pruebas me remito.

Ontem pela manhã, uma secretária do departamento de sociologia da universidade Via Domitia, de Perpignan, recebeu punhaladas no peito e na garganta. A vítima, de 29 anos, morreu em decorrência dos ferimentos. Le Monde, sempre tão cauto na hora de nominar criminosos, desta vez não teve pruridos. “Ye Quing, 26 anos, a golpeou com uma faca de 40 cm”. Ye Quing é chinês.

O Libération, idem. “Uma secretária de 49 anos da universidade de Perpignan foi assassinada na quarta-feira a golpes de faca por um estudante chinês, que feriu outras três pessoas, uma delas gravemente”.

Chinês pode ser citado com nome, sobrenome e nacionalidade. O que não pode é árabe, africano ou muçulmano.