¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, janeiro 26, 2010
 
REUNIRAM-SE ENTÃO AS
ÁGUAS EM CONGRESSO...



Comentei outro dia reportagem de Veja, intitulada “Furadas” que podem estragar suas férias. Isadora Pamplona, a redatora, não desrecomendava país algum, mas advertia para épocas ou circunstâncias que é melhor evitar. Por exemplo, ir a Machu Picchu entre dezembro e março, temporada de chuvas. Ir a Veneza durante o carnaval. Ou ir ao Vaticano numa quarta-feira, quando milhares de pessoas se amontoam para ver o papa. Ou ir atrás da Mona Lisa, no Louvre. Etc. (Confira em http://tinyurl.com/y9zh423).

Choveram mensagens à revista. Até hoje, mais de cem. Alguns leitores concordavam com as advertências, mas a maioria dos mails era de protesto, inclusive com ataques pessoais à redatora. Entende-se. Quem entrou em furada não gosta de admitir a mancada. Pagou caro para fazer besteira e precisa valorizar seu investimento. Sobre Machu Picchu, escreveu um certo Willow:

Acabei de voltar de Machu Picchu. Quem escreveu essa reportagem não tem noção do que está falando. Choveu um pouco sim, mas consegui ótimos descontos por causa da baixa temporada e a chuva faz parte da brincadeira, oras. Se não curte turismo ecológico, ou tem pouco espírito aventureiro, melhor ficar em casa. Machu Picchu não é pra maricas. O meu conselho é, viaje e não se preocupe tanto com essas besteiras. Planejamento é bom, só não escute conselhos de caras que nunca estiveram lá.

Reuniram-se então as águas em congresso, em manifesto apoio à redatora. Leio hoje no Estadão:

LIMA - Subiu para cinco o número de mortos pela chuva na região andina de Cuzco, no Peru. Entre os mortos está uma turista argentina de 20 anos chamada Lucila Ramballo e um guia peruano, além de um morador da região, uma mulher e um bebê.

Um helicóptero conseguiu resgatar 60 dos 2 mil turistas que estão isolados no povoado de Águas Calientes, onde ficam os visitantes das ruínas incas de Machu Picchu. Os turistas foram levados para Ollantaytambo e de lá serão levados para Cuzco, a 570 quilômetros a sudoeste de Lima. Ao menos 200 brasileiros estão entre os turistas ilhados.

Com as chuvas, o rio Urubamba transbordou e alagou a linha ferroviária que liga Cuzco a Machu Picchu. O serviço foi interrompido no domingo. O trem é o único meio de transporte na região, que é a mais visitada do Peru.

Os turistas passaram a noite dormindo em tendas da Defesa Civil Peruana. O chefe de Gabinete do presidente Alan Garcia, Javier Velásquez, prometeu disponibilizar cinco helicópteros para resgatá-los. O governo declarou estado de emergência na região por 60 dias. A chuva afetou ao menos 3.440 pessoas da região, segundo a Defesa Civil.


No portal UOL, leio depoimentos de outros turistas brasileiros ilhados:

"Por enquanto a situação não é desesperadora, mas é bastante crítica. Tudo o que eu quero é voltar com minha família para o Brasil". Com essa frase o contador catarinense Mauro Antônio Fornazari, ilhado na região de Machu Picchu há três dias em decorrência das fortes chuvas, começou a conversa com o UOL Notícias pelo telefone. Ele, a mulher e os dois filhos foram passar as férias no Peru e estão presos na cidade de Aguas Calientes, cidade que dá acesso a Machu Picchu, a espera do resgate que será enviado pelo governo peruano.

Mauro, a família e mais cinco pessoas estão dormindo em uma casa de dois pavimentos, na cidade. "Nós (nove pessoas) dormimos em dois colchões. Estamos sem banho e, por enquanto, não há falta de alimento". No entanto, o catarinense disse que a cidade começa a dar sinais de que pode faltar comida.

"Nós tínhamos esperança que os helicópteros viessem nos resgatar ainda hoje [terça, 26], mas a chuva não para", disse o contador. "A ferrovia está bloqueada, mas talvez nós tentaremos ir a pé. A caminhada é de oito a 10 horas até Cusco", completou.

Segundo a empresa PeruRail, alguns turistas decidiram deixar Machu Picchu a pé. "Ao transitar pela via colocam em risco sua segurança. Por isso pedimos calma e que permaneçam em Machu Picchu até que as condições de evacuação sejam adequadas", diz a empresa.

Tania Demeulemeester, mãe de Julien Marcel - um dos alunos da UFRGS - disse que o último contato foi na noite de segunda-feira (25). "Ele disse que as filas nos telefones públicos estão imensas e que os caixas eletrônicos não têm mais dinheiro para sacar", contou. Segundo Tânia, o maior medo dos estudantes é a possibilidade da falta de comida.


De fato. Entre dezembro e março, Machu Picchu não é para maricas. É viagem para machos, que adoram entrar em uma fria. A redatora de Veja é realmente uma besta, ao recomendar não viajar a Machu Picchu em época de chuvas.