¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, fevereiro 11, 2010
 
VOSSA SENHORA RECOMENDA
PUNK ROCK NAS ESCOLAS



A cabala, no pensamento judaico, é associada ao ensino esotérico e místico. Em sua acepção mais ampla – diz meu Dictionnaire Encyclopédique du Judaïsme – designa as correntes esotéricas sucessivas que se desenvolveram a partir do período do Segundo Templo. E que se tornaram os elementos dinâmicos da história do judaísmo. A palavra designa um fenômeno particular que não encontra equivalente no misticismo clássico, tal como é definido pela história das religiões, pois se baseia ao mesmo tempo no esoterismo e na teosofia.

Originalmente, toda doutrina fora do Pentateuco – ou da Torá, como quisermos – mesmo a dos profetas e hagiógrafos, era chamada de cabala. Ou seja, estamos falando do judaísmo rabínico. Da doutrina elaborada pelos burocratas da fé para justificar suas mordomias. Os fundamentos desta doutrina remontariam ao início da era cristã, a Abraão e até mesmo Adão ... segundo os cabalistas. Seu florescimento ocorreu no século XII, como uma reação contra Maimônides, aquele médico e rabino degenerado que nasceu em Córdoba e defendeu genocídios com gosto em seu Os 613 Mandamentos. Isaac, o Cego, cidadão de Nîmes, é considerado o pai desta doutrina, cujo auge teria sido atingido pelo livro Zohar (o Brilho), escrito em aramaico.

No Talmud, o termo qabbalhah é utilizado para designar as partes da Bíblia exteriores ao Pentateuco e à lei oral. A expressão designa apenas uma das numerosas denominações utilizadas durante mais de 1.500 anos para nomear as correntes místicas, seus ensinamentos e seus discípulos. Cá entre nós, tanto cabala como teologia são recursos de gigolôs do absoluto para enganar incautos.

Louise Veronica Ciccone foi ontem recebida por José Serra, governador de São Paulo e candidato ainda não-candidato à presidência da República - diz a Folha de São Paulo. Fundadora da ONG Success for Kids, Ciccone solicitou audiência com o antigo celerado da AP para propor a adoção de seu programa educacional -baseado em princípios cabalísticos- na rede estadual. Na conversa, Ciccone explicou que, destinado a crianças de 8 a 12 anos, o programa aplica os conceitos da cabala para o autoconhecimento dos alunos e sua relação com o ambiente. Antes que me esqueça, Louise Veronica Ciccone é essa vedetinha mais conhecida como Madonna. E caso o leitor não mais lembre, Madona é o título que os católicos dão à tal de Nossa Senhora.

Senhora que, já que estamos falando no assunto, cometeu um grave erro de sintaxe ao aparecer aos pastorinhos de Fátima, em Portugal. “Eu sou a Nossa Senhora” – disse a dona. Nossa Senhora, como? Era também senhora dela mesma? O correto seria: “eu sou a Vossa Senhora”. Vai ver que a santa mãe de Deus, apesar de sua onisciência, não dominava muito bem o português. Também, pudera! A última flor do Lácio só desabrochou alguns séculos depois de sua assunção aos céus. Maria, a virgem, mais parece turista de excursão, que não domina o idioma dos países que visita.

Serra, que no dia anterior havia participado da inauguração da biblioteca aquela onde haverá “contação” de histórias e bailes para macróbios da terceira idade, recebeu como uma benção a visita da Vossa Senhora. Caindo em alta velocidade nas pesquisas para uma outra terrorista, também candidata ao trono, em virtude de sua pusilanimidade, esfregar-se num ídolo ianque sempre vem bem. Se submeteu inclusive à humilhação de ter seu gabinete revistado pelos seguranças de Madonna. No que depender do candidato não-candidato, as crianças de São Paulo arriscam a ter em seu currículo, não só “contação” de histórias como também superstições rabínicas.

Mas que é cabala para a Nossa - ou Vossa – Senhora? Vejamos a brilhante definição da moça. “É muito punk rock. Para mim punk rock é um pensamento liberador, pensar do lado de fora da caixa, do lado de fora do programa, fora do establishment. Foi isto que quis falar”.

E nisto estamos. Que entende Esta Senhora de judaísmo, aramaico ou hebraico para falar de cabala? E o senhor que recebe esta vigarista ainda se julga habilitado para governar o país. A outra candidata, a terrorista, manifestou tímidos desejos de encontrar-se com a Dona. Tristes dias esperam o dito país líder do continente.