¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, março 25, 2010
 
A QUAL INSTÂNCIA O VICE-DEUS
APRESENTARÁ SUA RENÚNCIA?



O cerco se fecha. A edição do New York Times de hoje revela que várias autoridades do Vaticano, entre elas o então cardeal Joseph Ratzinger, encobriram o abuso sexual de 200 crianças surdas por um religioso de Wisconsin, o padre Lawrence Murphy. Em 1996, Ratzinger não respondeu a duas cartas sobre o caso, enviadas pelo arcebispo de Milwaukee, denunciando os crimes.

A notícia repercutiu na primeira página dos mais importantes jornais da Europa, desde o Suddeutsche Zeitung ao Corriere della Sera, passando pelo Libération, Le Monde e El País. Só não encontrei nada no Osservatore Romano, que dá sua primeira página à uma audiência de Sua Santidade dedicada a São Alberto Magno, à celebração da Anunciação na tradição sírio-ocidental, ao encontro entre Obama e Netanyahu e a um plano de desenvolvimento de um bilhão de dólares na Índia.

A affaire envolve também o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que em fevereiro deste ano afirmava ser necessário que os padres pedófilos “reconheçam suas culpas, já que das provas pode surgir a renovação interior”. Na época das cartas do arcebispo de Milwaukee, Ratzinger presidia a Congregação para a Doutrina da Fé e Bertone era seu vice. Oito meses depois da denúncia, cardeal Bertoni encarregou os bispos de Wisconsin de instruir um processo canônico secreto que teria podido levar ao afastamento do padre Murphy.

Bertone, segundo o NYT, encerrou o processo depois que padre Murphy escreveu pessoalmente ao então cardeal Ratzinger que não deveria ser submetido a processo porque estava arrependido e em precárias condições de saúde: “Quero simplesmente viver aquilo que me resta na dignidade de meu sacerdócio”, escreveu o padre, já perto de sua morte, o que ocorreu em 1998.

Então tá! Se estava arrependido, não precisa levar a frente o processo. Não se tratou exatamente, no caso, de uma ação entre amigos. Mas de uma ação entre cardeais. Vai, meu filho, teus pecados te são perdoados.

Esta é a segunda denúncia, em menos de uma semana, a apontar diretamente para o sucessor de Pedro. Sábado passado, Elke Hümmeler, na Baviera, citava 120 relatos de abusos feitos desde que um padre foi transferido em 1980 para trabalhar com crianças em Munique, mesmo sendo suspeito de ter cometido abusos na cidade de Essen. A arquidiciose bávara foi presidida entre 1977 e 1982 por quem? Pelo cardeal Joseph Ratzinger. O sacerdote, em vez de ser denunciado à polícia, foi submetido a sessões de terapia, endossadas pelo atual pontífice.

Quem acoberta dois, acoberta dez, cem ou quantos forem necessários. Não será de espantar que surjam, nos próximos dias ou meses, novas denúncias da cumplicidade criminosa de Sua Santidade.

Ontem ainda, Bento aceitou a demissão de John Magee, bispo irlandês de 74 anos, secretário de três papas e acusado de encobrir casos de pedofilia na diocese de Cloyne. Em carta pastoral, o papa pediu perdão – mas não punição – pelo acontecido.

Magee pediu demissão ao vice-Deus. Pergunta que se impõe: a quem pedirá demissão o vice-Deus? Ao Big Boss?