¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, março 30, 2010
 
RICOS TRABALHAM MAIS.
CORRUPTOS MAIS AINDA



Vige em nossos dias uma idéia de que os pobres trabalham mais do que os ricos. Deve ser herança dos dias de Marx, em que mineiros trabalhavam até 16 horas por dia debaixo da terra. Hoje, um operário trabalha oito horas. Cumprida sua jornada, volta para casa. O patrão fica gramando em seu escritório, tratando de aumentar – ou pelo menos conservar – seu patrimônio. Que o digam os autônomos, que não têm patrão. Toda hora é hora de trabalho.

Boa amiga me manda de Estocolmo pesquisa publicada no Aftonbladet pelo Svenskt Näringsliv, organização trabalhista que representa empresas, que analisa a divisão entre diferentes faixas de renda na Suécia e no resto do mundo. Contra uma concepção corrente, ficou demonstrado que os detentores de grandes salários, os proprietários de empresas e chefes trabalham consideravelmente mais horas por dia e têm menos tempo livre que os que recebem menores salários. Os chefes de departamento trabalham cerca de 20% a mais que seus subordinados. Os empresários trabalham ainda mais: tantas horas quanto um funcionário em tempo integral que jamais tira férias.

Segundo a pesquisa do Svenskt Näringsliv, um quarto dos que têm mais altos salários entre os suecos, na idade entre 20 e 74 anos, trabalha mais do que um quarto dos que recebem menos. Ao mesmo tempo, o quarto de menores salários tem significativamente mais tempo, mesmo levando em consideração o tempo para estudos, trabalho em casa e viagens.

Que a vida do rico é mais dura que a do pobre, no que diz respeito a trabalho, sobre isto não há dúvida alguma. Não por acaso, o rico é rico e o pobre é pobre. Sim, há os ricos por herança, aqueles que não precisaram trabalhar para acumular. Mas mesmo estes, se se descuidam, voltam à condição de pobres. Metendo minha esquiva colher neste distante caldo, ofereço uma brasílica contribuição ao estudo.

Faltou analisar uma condição das mais particulares. Sendo o Brasil rico nesta mostragem, penso que podemos oferecer uma achega à pesquisa sueca. Mais dura que a dos ricos, é a vida dos corruptos. Além de trabalhar arduamente para pôr a mão no alheio, têm depois de defendê-lo com unhas, dentes e advogados. Que o digam José Sarney, Fernando Sarney, Edemar Cid Pereira, Zé Dirceu, Delúbio Soares, Arruda, Maluf et caterva. Basta um vacilo e lá vão pelo ralo 100 milhões de dólares aqui, 20 milhões ali, 13 milhões acolá. Dormientibus non sucurrit jus. Imagine o leitor as noites sem sono desta operosa gente.

Constituir patrimônio é o de menos. O problema é ter de defendê-lo da fúria do Fisco e dos tribunais. Haja horas de trabalho com advogados, recursos, arabescos colaterais, para preservar a grana a duras corrupções amealhada, em Nova York, Uruguai, ilha Jersey, Suíça, China, Lichteinsten, Andorra, Bermudas, Cayman e demais paraísos fiscais da vida.

O operário que ganha seus modestos trocados pode dormir em paz, está livre de tais atribulações. Ser corrupto já é bem mais complicado. Exige competência, audácia, agilidade, horas extras de trabalho.

Não é ofício para quem gosta de vida mansa.