¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, abril 29, 2010
 
A GRANDE MISTIFICAÇÃO
DO SÉCULO PASSADO (IV)



Este debate sobre a psicanálise, para mim já estava resolvido há um bom meio século. Me espanta que seja hoje retomado na culta França. Ou supostamente culta. Retomar a discussão me soa como tentar saber se Ury Geller – alguém ainda lembra? – entortava ou não colheres. Há muito defendo a idéia de que os jornais deviam ter uma espécie de supervisor de uns 80 anos, com pelo menos meio século de redação, que conheça bastante bem a história de seu tempo, para que os redatores mais jovens não achem que é novidade o que em verdade é antigo. Volto ao livro dos Pinckney.

“Segundo o próprio Freud, ninguém tem o direito de criticar a psicanálise. Pelo simples fato de pôr em dúvida os métodos psicanalíticos, a opinião do céptico não merece confiança. Em Freud, lê-se: “Ao céptico se diz que a análise não requer fé; que ele pode ser tão crítico e desconfiado quanto queira; que, em absoluto, não se considera sua atitude como resultante de seu raciocínio, pois não tem condições de formar sobre o assunto apreciação digna de crédito...”

Dogma absoluto, no melhor estilo dos dogmas da Santa Madre. Quem não crê, não tem autoridade alguma para falar sobre o assunto.

“Paradoxalmente, e isto espelha a psicanálise em geral, não é indispensável ter sido analisado ou possuir raciocínio fidedigno para elogiar Freud e seu trabalho; homenagens à psicanálise são sempre aceitas, ainda que seus autores não tenham conhecimento, ou experiência do assunto. Com essa atitude farisaica, Freud e seus discípulos não dão lugar à investigação por métodos científicos, pois o cientista, por sua própria necessidade de testar a validade das teorias, revelar-se-ia suspeito e incapaz de julga com precisão”.

Não há chance alguma para quem discorda. Disse Dr.Freud: “... dando interpretações a um paciente, nós o tratamos sob a famosa fórmula de cara ou coroa. Isto é, se o paciente concorda conosco, a interpretação está certa. Mas se ele nos contradiz, isto é apenas sinal de sua resistência, o que novamente prova estarmos certos”.

Os Pinckney fazem uma distinção entre psiquiatria e psicanálise. Para os autores, a psiquiatria é um ramo da medicina dedicado à causa, diagnóstico e tratamento da doença mental. Esta abrange todas as formas de distúrbios do cérebro e sistema nervoso. O verdadeiro psiquiatra não exclui doenças orgânicas ou físicas, nem exclui a possibilidade de a doença mental resultar de etiologia física, química ou biológica. O psicanalista, pelo contrário, recusa-se a reconhecer qualquer desvio de saúde senão o que ele convenientemente rotula de neurose e, além disso, recusa-se a atender quem manifeste o mais remoto sintoma de doença verdadeira.

“Assim é que, há pouco mais de cinqüenta anos, um homem doente e solitário – um homem que não suportava que outros o fitassem; um homem que tinha sentimentos anormais em relação à própria mãe, a expensas da esposa; um homem que vicariamente se comprazia em sórdidas histórias sexuais – lançou uma doutrina para justificar suas próprias anormalidades”.

Michel Onfray não está dizendo nada de novo. Há muito a psicanálise foi desmistificada.