¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

sexta-feira, maio 14, 2010
 
DEVEM OS PADRES
CASTRAR-SE?



Os jornais divulgaram hoje um documento da CNBB contra a ordenação de religiosos homossexuais. A recomendação diz que a Igreja deve ater-se a um documento produzido em 2005, aprovado pela Santa Sé, intitulado "Instrução sobre os critérios de discernimento vocacional acerca de pessoas com tendências homossexuais e da sua admissão ao seminário e às ordens sacras". O texto define que, "embora respeitando profundamente as pessoas em questão, a Igreja não pode admitir ao seminário e às ordens sacras aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente radicadas ou apóiam a chamada cultura gay".

Perdoem-me os doutos príncipes da Igreja, mas diria que estão laborando em equívoco. Sacerdotes fazem voto de castidade. A Igreja não pode admitir nas ordens sacras nem mesmo aqueles que praticam a heterossexualidade ou apresentam tendências heterossexuais. Padre tem de ser assexuado.

Ocorre que a natureza fala mais alto e os coitados não conseguem fugir às tentações do século. Em minha adolescência, militando na JEC, convivi muito com padres. Ou melhor, eles conviveram conosco, jovens. Todos largaram a batina. O convívio dos padres com gente moça foi funesto para o sacerdócio. Como me dizia um deles: se batina fosse bronze, que badaladas!

Havia os hipócritas, é claro. Tive uma namorada gaúcha cujo confessor a aconselhava afastar-se de mim, o ateu. Reencontrei-a alguns anos mais tarde. Me contou que o casto padre acabou por levá-la em uma viagem pelos Alpes austríacos e suíços. Com o dinheiro da paróquia, é claro. Ela aceitou o convite. Naquele momento, a moça morreu para mim. Quem se relaciona com corruptos também participa da corrupção.

Tive outra amiga que se especializou em seduzir padres. Era seu esporte dileto. Encontrou certa vez um padre virgem, em seus quarenta anos. O homem andava tão perturbado que, quando ela ia à missa para paquerá-lo, chegava a derrubar do sagrado caneco o sagrado sangue de Cristo. O sonho dela, segundo me confidenciou, era um bispo. A vida nos afastou e não sei se chegou lá.

Devem os padres ser castrados? – me pergunta um leitor. Orígenes, por exemplo, levou ao pé da letra o bíblico preceito de Mateus: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu corpo para o inferno”.

Ainda é Mateus quem diz: "Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. Quem pode aceitar isso, aceite-o".

Por analogia, Orígenes cortou os dídimos. Escandalizavam muito, ao que parece. Eu não seria tão radical. Mas uma castração seria, sem dúvida alguma, um poderoso reforço ao voto de castidade.

Se na bula papal Cum pro nostri temporali munere, de 1589, Sisto V aprovou formalmente o recrutamento de castrati para o coro da Basílica de S. Pedro, para deleite dos cardeais, por que não poderiam os padres castrar-se para maior glória de Deus?