¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, maio 26, 2010
 
NÁPOLES É CASO À PARTE


Heitor, um leitor, me escreve:

Faz tempo que o Janer não vai à Europa! O Porto tem flanelinhas e na Boavista! E Nápoles tá cheio de trombadinhas. Só que lá as mães acompanham nos assaltos.

Não, não faz tanto tempo assim. Ocorre que Nápoles é exceção na Europa. Sempre teve uma tradição de assalto a turistas. Não são trombadinhas. São trombadões. É certamente a cidade mais suja do continente e onde o visitante está mais exposto a ser roubado. Há uns dez anos, em Roma, passei numa agência de turismo, para reservar um hotel em Nápoles. O agente foi curto e grosso:

- Não vá a Nápoles. Você vai se arrepender.

Como?

- Vá a qualquer cidade da Itália. Menos Nápoles.

Mas eu queria conhecer Nápoles. E se eu ficar numa cidade próxima e for visitá-la rapidamente?

- Qualquer cidade na Itália é melhor que Nápoles – insistiu meu interlocutor.

Por meu acento ao falar italiano, ele logo intuiu que eu era brasileiro. Fez uma ressalva:

- Claro que não é como no Brasil. Lá você morre por qualquer trocado. Aqui, o assaltante avalia: até que ponto vale perder a liberdade por pouca coisa? Você não será assassinado, nem ferido. Mas provavelmente será assaltado.

Estava bem informado sobre o Brasil, meu agente. Mas havia uma solução. Sair com pouco dinheiro na rua, bem protegido, e sem documentos. Acabei desistindo de Nápoles. Ocorre que o trem atrasou e chegaria muito tarde a Sorrento. Não gosto de procurar hotel no meio da noite. Decidi ficar na cidade que o italiano desrecomendava. Procurei ficar perto da estação, para não expor-me muito.

Hotel imenso, de arquitetura solene, decadente. E com um fedor abominável, proveniente sei lá de onde. Seriam umas cinco da tarde. Resolvemos – eu e minha mulher - dar um giro pelo centro antigo. Na primeira entrada do bairro, uma italiana nos advertiu: “cuidado com o bolso”. Em cada esquina, grupos ameaçadores. Avançamos sem medo, afinal não levávamos nada roubável. Mas voltamos logo para o hotel fétido e no dia seguinte, na primeira hora, rumamos a Sorrento. A poucos quilômetros dali, mas com uma diferença abissal. Podia-se andar pelas ruas na madrugada sem sensação alguma de insegurança.

Quer dizer, não vale citar Nápoles. É uma das raras cidades na Europa – senão a única – onde você é assaltado pelos nativos. Nas demais, você será assaltado por árabes, ciganos, paquistaneses, romenos e até mesmo ex-iugoslavos.

Quanto a Portugal, está cada vez pior. Estive há umas duas décadas em Porto, não havia flanelinha algum. Nos últimos anos, tive notícias de que já havia alguns em Lisboa. Não eram portugueses. E sim brasileiros, que quiseram introduzir o ofício na cidade. Pelo que me consta, foram presos. De qualquer forma, nos dias de hoje não é muito salutar flanar pela noite no Rocio e Praça do Comércio. A ameaça não são os lusos. Mas os africanos. Estive em Lisboa em novembro passado e preferi não passear à noite pelo centro.

O mesmo está ocorrendo em Barcelona, onde todo imigrante tem direito a assaltar qualquer turista, desde que não roube mais que 400 euros. A verdade é que a Europa de hoje não é mais aquela de uns trinta anos atrás, quando se podia flanar tranqüilamente pelas madrugadas em suas capitais.

Mas a violência não parte dos europeus. Parte dos imigrantes.