¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, maio 29, 2010
 
NOVAS SOBRE
O VIGARISTA
DE MÁLAGA



Tenho escrito seguidamente sobre a venalidade de Pablo Picasso e sua eterna e sempre renovada mentira em torno ao quadro Guernica, "obra em homenagem às vítimas da cidade basca de Guernica, bombardeada por Franco".

Ora, os fatos são bem outros. Só alguém hipnotizado pela mídia poderá ver cenas de bombardeio em Guernica. Picasso havia pintado uma tela de oito metros de largura por três e meio de altura, intitulada La Muerte del Torero Joselito, plena de cores fúnebres, que iam do preto ao branco, em homenagem a um amigo seu, o toureiro Joselito, morto em uma lídia. O quadro ficara esquecido em algum canto de seu ateliê. Ao receber uma encomenda para o pavilhão republicano da Exposição Universal de Paris de 1937, Picasso lembrou do quadro. Foi quando, para fortuna do malaguenho, a cidade de Guernica foi bombardeada pela aviação alemã. Ali estava o título e a glória, urbi et orbi.

Tenho repetido isto a cada vez que algum jornal retoma o gasto refrão, de que o quadro foi uma homenagem às supostas vítimas de Guernica. E digo supostas porque o episódio é controvertido. Hugh Thomas, em La Guerra Civil Española, falava em 1654 mortos em Guernica, na primeira edição de seu livro. Na segunda, reduziu a 200 este número. É uma diferença considerável.

Agora temos novidades. Ontem, no The Guardian, falando do quarto volume da biografia de Picasso, o historiador britânico John Richardson afirmou que o pintor manteve conversações com o regime de Franco para organizar uma retrospectiva de sua obra em Madri, em 1956. A tentativa foi feita. Pelo jeito, após ter feito fortuna fazendo propaganda comunista, Picasso queria faturar mais alguns milhões de dólares na Espanha de Franco. O vazamento desses contatos e as pressões de seu entourage frustraram o projeto. Richardson, que foi integrante do círculo de amigos do malaguenho nas décadas de 40 a 60, nos conta:

“Naquele momento, a idéia de uma retrospectiva na Espanha era mais importante para ele que o Partido Comunista”. Segundo o crítico José Maria Moreno Galván, que foi o intermediário das conversações entre o pintor e o assessor cultural da embaixada espanhola em Paris, José Luis Messia, este lhe disse: “Pena que Lorca não esteja vivo. Teríamos matado dois pássaros com um tiro só”. Sobrou até para o poeta de Fuente Vaqueros.

Um grupo de exilados espanhóis pediu a Picasso que não expusesse na Espanha, como consta do diário do escritor francês Jean Cocteau. Ao final de tudo, foi o próprio ministério de Relações Exteriores espanhol que, ante o vazamento da notícia à imprensa, decidiu suspender as negociações. Não fosse isso, teríamos o escroque malaguenho endossando o regime del caudillo de España por la gracia de Diós.

Franco perdeu um grande aliado.