¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, maio 21, 2010
 
SEM CRACK, ONGS
PERDEM EMPREGOS



A poucos minutos de táxi daqui de casa, na região da estação da Luz, há um vasto território onde o consumo de toda e qualquer droga é livre. Como a droga mais consumida é o crack, convencionou-se chamar aquele espaço de Cracolândia. Mas lá você encontra o que quiser, desde a canabis até a cocaína.

Certo dia, passei de táxi por uma extremidade da rua Guaianases, a que mais concentra drogados. Dantesco e assustador. Centenas de zumbis, crianças e adultos, homens e mulheres, enrolados em cobertores e capuzes, cachimbando crack, coalhavam a rua. Nenhum taxista ousa entrar no pedaço. Tudo isto no centro da mais imponente capital do continente.

Leio hoje no Estadão que em cinco anos, o número de usuários de crack quase dobrou no Brasil: de 380 mil para 600 mil. O problema agora mobiliza o governo federal, que planeja dobrar o número de vagas para internação de usuários neste ano - de 2,5 mil para 5 mil - e lançou ontem um programa de R$ 410 milhões. Mas se São Paulo, base das ações governamentais anteriores servir de exemplo, o desafio está longe de ser vencido.

A Prefeitura quer revitalizar a Cracolândia. Para isso, está tocando um projeto que chamou de Nova Luz. Uma vasta área está sendo desapropriada e será demolida para dar lugar a um centro administrativo. O que me parece uma ótica de cegos. Centros administrativos se tornam desertos depois das seis da tarde. Mesmo que os marginais sejam afastados durante o dia, todos voltarão à noite a seu habitat. Todas as semanas, os jornais nos trazem fotos de pobres coitados fumando crack. Alguns permanecem dias deitados, já nem conseguem parar em pé. Só a polícia, que tem um distrito policial justo na Cracolândia, parece não ver nada.

A dita revitalização da Cracolândia está gerando um efeito funesto. Os nóias estão se espalhando pelas áreas adjacentes, inclusive pelo centro histórico da cidade. Hoje, na praça da República, e mesmo junto ao terminal de Cumbica, você vê pobres diabos jogados na sarjeta, sempre em grupos, chupando tranqüilamente seus cachimbos, em plena luz do dia.

Há dois anos, o prefeito Gilberto Kassab chegou a anunciar, na Folha de São Paulo, que a Cracolândia havia sido definitivamente banida da cidade: “Não existe mais a velha cracolândia deteriorada, a serviço da droga, a serviço do crime. Cada vez mais essa é uma página virada na história de São Paulo”. Santa ilusão! Hoje os nóias estão contaminando o centro todo. Se no começo eles circulavam entre Campos Elísios e República, agora estão também em Santa Cecília e Higienópolis. A polícia vê mas não faz nada. Considera-se que o problema é social, não policial. Às vezes, para mostrar serviço, esvaziam as ruas do crack por algumas horas. Apenas por algumas horas. Ninguém é preso, nem usuários nem traficantes. O governo lança um programa de R$ 410 milhões para internar usuários de crack. Em cadeia, ni pensar.

A única providência até agora tomada por ONGs que querem resolver o problema foi fornecer um cachimbo de madeira aos usuário, com o objetivo de incentivar o não compartilhamento do instrumento. Isso porque os coitadinhos dos viciados constroem modelos artesanais de metal, que queimam a boca, causando feridas, e podem transmitir doenças quando compartilhado com outras pessoas. Ou seja: quando ONGs fornecem impunemente instrumentos para o consumo da droga, não vejo como o governo pretenda extirpá-lo.

Há alguns meses, a polícia deteve centenas de usuários de crack e os levou para uma base de uma Ação Integrada Centro Legal. Assustados com a chegada dos viciados, os agentes municipais que trabalham na base abandonaram o local e se refugiaram sob a cobertura de um ponto de ônibus. “É um risco para a gente”, explicou dos agentes de saúde. São estes mesmos agentes da saúde, mais as assistentes sociais e os ditos defensores dos tais de Direitos Humanos, os primeiros a protestar quando a polícia recolhe os drogados. “Estão minando a confiança que conquistamos junto a eles”, alegam. Em entrevista ao O Estado de São Paulo, o secretário das Subprefeituras da Prefeitura de São Paulo – pomposo cargo - Andrea Matarazzo afirmou: “Tinha uma ONG que levava um estojinho com seringa, cachimbo, água destilada e manteiga de cacau e distribuía para as crianças. Isso é um absurdo”.

Se é. Os dirigentes de tais ONGs deviam estar na cadeia, junto com os usuários. São pessoas que estimulam até mesmo crianças ao consumo do crack. No fundo, defendem seus empregos. Sem crack, nenhum salário. Urge pois que o tráfico e o consumo existam. Há uma hipocrisia incomensurável nas políticas governamentais de combate às drogas. Proíbe-se seu consumo, tanto que traficantes são punidos. Mas o consumidor não é punido. Há ativistas supostamente modernosos pretendendo descriminalizar o consumo de drogas no Brasil. Demagogia, bandeiras vãs, cantigas para ninar pardais. Há muito a droga está descriminalizada no Brasil.

Você, leitor, teve notícia nas últimas décadas de alguém que tenha sido preso pelo uso de maconha, cocaína, ecstasy ou crack? Eu não tive. Todos sabemos – e é de supor-se que a polícia não ignore – que cada show de rock ou cada rave é um mercado divino para o consumo de drogas. Os pais dos adolescentes que freqüentam tais festas estúpidas também sabem disso. Todo mundo faz que não sabe.

Sociólogo defendendo o uso do crack é o que não falta. Há quem condene a repressão à droga comparando-a ao macartismo. Disse um destes senhores:

“A proibição ocupa hoje o lugar que ontem ocupava a guerra ao comunismo. Há um paralelismo possível entre a guerra às drogas e a guerra ao terror. A droga como mal universal, com o inimigo a ser combatido, como o demônio. Esse discurso que antes justificou o macartismo e hoje justifica a intervenção em nome do combate ao terrorismo é muito útil para a manutenção do discurso que legitima a desigualdade e a subalternização da periferia pelo centro. A vida privada é protegida contra qualquer interferência estatal, salvo quando há risco a terceiros. Quem consome drogas ilegais só causa dano à própria saúde, logo não há alteridade, o que deslegitima qualquer intervenção do direito penal. O homem se relaciona com substâncias psicoativas há milênios e a violência só passou a fazer parte dessa equação após a adoção do modelo bélico”.

Ok! Deixemos este lixo humano perambulando quais zumbis pelas ruas das cidades. Ao que tudo indica, é o que as autoridades também querem, já que nada fazem para reprimir este tráfico. Mas, por favor, que perambulem longe de quem quer viver em paz.

Se droga é permissível, que os nóias pelo menos voltem pra Cracolândia, onde estarão entre os seus.