¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, maio 19, 2010
 
VELHO SAFADO
NEGA PASSADO



Leio na Agência Estado que Fernando Gabeira, o candidato do PV ao governo do Rio de Janeiro, reagiu com indignação às declarações feitas neste domingo passado pela ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy sobre a sua atuação no seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969. "Esse sim sequestrou", disse a petista, afirmando que caberia à Gabeira a incumbência de matar o embaixador.

A vestal do PV reagiu indignada: "Ela está equivocada, está inventando coisas, está mentindo. Não havia escala para isso (para um assassinato). Lamento que ela use esse tipo de coisa na campanha eleitoral. Até porque tem muita gente dentro do PT que sabe bem dessa história", afirmou.

Ao acusar Gabeira, Dona Marta respingou Franklin Martins, um dos seqüestradores do embaixador e hoje ministro da Comunicação Social no governo do PT – et pour cause. De Madri, o velho terrorista apressou-se a autorizar o outro velho terrorista: "O Gabeira não foi escalado. Não tinha ninguém escalado para matar. A participação do Gabeira era ser basicamente o responsável pela casa."

Ora, se você seqüestra alguém isto significa que não vai libertá-lo se não obtiver satisfação às suas exigências. E se o governo não atendesse as reivindicações dos terroristas? Estes iriam devolver Elbrick intacto à embaixada americana? Se assim fosse, para que seqüestrar então? Seqüestro implica sempre uma ameaça de morte. Armas servem para matar. Que mais não seja, ser responsável pela casa em que se guarda um seqüestrado é ser cúmplice do seqüestro.

Gabeira disse que não pretende processar a petista pelas declarações. "Vou ignorá-la. Como ela merece, de uns anos para cá". Nem teria como processá-la. Por acaso Dona Marta disse alguma inverdade? Há um ar de indignação nos jornais, a afirmação de que a ex-prefeita “apelou”. Apelou como? Quem não sabe que Gabeira teve um passado terrorista? Há até quem fale em pós-dedo-durismo. São lindos os neologismos. Têm a virtude de “enjoliver” uma realidade suja.

Gabeira, se alguém não lembra, é também o deputado que não hesitou em beneficiar-se da farra das passagens aéreas, para visitar sua filha no Exterior. Que deitou verbo contra as bolsas-ditadura de dois vigaristas do Pasquim, Ziraldo e Jaguar, ao mesmo tempo em que reivindicava uma bolsa-ditadura junto à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, pelos dias em que passou puxando fumo em Estocolmo.

Gabeira é a vestal que, como se nada tivesse a ver com as falcatruas do Senado, escreveu em sua coluna na Folha de São Paulo, em julho do ano passado: “Não se trata só de um constrangimento ao ver o Senado definido como casa de horrores. Mas o de conviver um grupo de homens idosos, movendo-se com uma desenvoltura criminosa, unindo nos lábios do povo as palavras velho e safado, como se fossem gêmeas que nascem ligadas. Tempo de tormentas”.

De sua militância comunista, Gabeira não escapou ao velho vício stalinista, o de devolver qualquer acusação a quem o acusa. Minha mãe, não. É a tua. Velho e safado, quer hoje negar seu passado como terrorista.