¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

segunda-feira, junho 28, 2010
 
BALCANIZAÇÃO DA ESPANHA?


Ontem à tarde, o Tribunal Constitucional da Espanha deu à luz uma grave sentença sobre o Estatuto da Catalunha, que põe em risco a existência do próprio país, como hoje o conhecemos. No preâmbulo da nova lei, a Catalunha é definida como nação, sem ligar para o artigo 2º da Constituição, que faz referência explícita à indissolúvel unidade da Nação espanhola. "El Parlamento de Cataluña, recogiendo el sentimiento y la voluntad de la ciudadanía de Cataluña, ha definido de forma ampliamente mayoritaria a Cataluña como nación", reza o Estatuto. Teremos um novo país na Europa?

Quando escrevi minha primeira crônica para a Folha da Manhã, em Porto Alegre, em 27 de outubro de 1975, Franco agonizava. O caudillo de España por la gracía de Diós, mutilado pelos médicos, vivia num mundo de sonho. De seu leito, em seus raros momentos de lucidez, pedia ansiosamente notícias sobre o governo. Sobre um governo que não mais existia. Ou, se existia, não estava mais em suas mãos.

Contava-se uma piada na Espanha na época. Franco, já cortado em pedaços, ouve alaridos fora do hospital. Chama seu ordenança.

- Que pasa?
- Es el pueblo, Generalísimo!
- Y que quieren?
- Vienen a decirle adiós.
- Ah sí! Y para donde ván?

Como não só o governante, mas também os governados, crêem na ficção do poder, os espanhóis esperavam que o símbolo bruxuleante do poder se apagasse, para determinar os novos rumos da Espanha. Que rumos? – me perguntei então. Disse-me um amigo na época: “eu estava pensando em conhecer a Espanha nestas férias. Mas acho que vou esperar um pouco, assim visito uns quatro países”.

Isto foi dito há 35 anos. Demorou um pouco, mas estamos rumando para lá. Na história, três décadas é um suspiro. Se a Catalunha se independentiza, ninguém segura as vascongadas, que muito antes dos catalães aspiravam a independência. É de se perguntar se isso não dará idéias à Galícia e à Andaluzia. Em um século em que a União Soviética desmoronou, em que Iugoslávia se quebrou em cacos, em que a Tchecoslováquia se partiu em dois, em que a Bélgica pensa seriamente em dividir-se, a balcanização da Espanha é perspectiva a ser levada em conta.

Por balcanização se entende a fragmentação de uma região ou Estado em partes ou Estados menores, geralmente hostis entre si. A palavra surgiu durante os conflitos da península balcânica no século XX. Por primeira balcanização se entende as guerras dos Balcãs e a expressão se tornou mais atual nas guerras iugoslavas. A hostilidade da Catalunha em relação à Espanha é evidente na oficialização do idioma, que obriga instituições a traduzirem do espanhol para o catalão – e vice-versa – documentos de duas regiões que falam a mesma língua.

Problema dos espanhóis, direis! Não é bem assim. Se a moda pega, não ficaremos imunes. Desde há muito, ONGs internacionais e ativistas quinta-colunas pensam na balcanização do Brasil. Vivemos hoje em país em que os brasileiros estão proibidos de transitar por certos territórios, as ditas nações indígenas, no jargão dos ongueiros. O mapa do Brasil - proporções à parte - está se parecendo cada vez mais com o de Israel. Uma ilhota de árabes aqui, outra de judeus ali e descontinuidade total de território.

Em editorial de novembro de 2008, intitulado “Atentado à unidade nacional”, o jornal O Estado de São Paulo analisava as reivindicações do aparato indigenista internacional, que exigia a plena implementação política e judicial da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.

Ora, esta convenção é um dos principais mecanismos jurídicos engendrados pela internacional indigenista para transformar povos indígenas e tribais em Estados independentes. Leio nos jornais que a Convenção foi aprovada em 1999 pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, do Senado, e pela Câmara de Deputados em 2003. Seus defensores dizem tratar-se de uma simples revisão da convenção anterior da OIT, a de número 107, ratificada pelo Brasil em 1966, o que é falso. Na 169, o espírito “integracionista” original foi substituído pelo “autonomista”, como pretendido pelo indigenismo internacional, estabelecendo as condições para dar existência às autonomias e autodeterminação das comunidades indígenas, primeiro passo para o surgimento de “nações” indígenas e posterior introdução do conceito de “plurinacionalidade”.

Não por acaso, a senadora e ex-ministra Marina Silva, galardoada com medalha do WWF (World Wildlife Fund) pelo príncipe Philip, e atual postulante à Presidência da República, se candidatou a ser a autora do projeto de lei destinado a regulamentar a Convenção 169. Isto é, se morena Marina levar, adeus Brasil como o concebemos. Feliz ou infelizmente, não vai levar.

Digo feliz ou infelizmente porque, depois da eleição e reeleição de Lula, os destinos do Brasil não mais me interessam. Que continue existindo como existe, ou que se desintegre. Não pertenço a este povinho que elegeu e reelegeu um analfabeto populista e corrupto. Minha pátria está em algum outro lugar do mundo. Talvez na Espanha, onde tenho algumas raízes. Por isso deploro esta tendência à balcanização de um país, tão lindo e tão rico historicamente, que hoje parece estar cedendo aos passados conflitos da Guerra Fria.

Quanto ao Brasil, se quiser partir-se em cacos – como um dia previu Eça de Queiroz – que se parta. Para mim tanto faz como tanto fez.