¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, junho 24, 2010
 
O ILUSTRE ANTROPÓLOGO
E AS ÍNDIAS DECADENTES



Sobre a crônica “Quando ensino vira mentira”, Heitor, um leitor, me escreve:

Acho que o senhor não leu O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro. A integração do branco na sociedade indígena é uma peça fundamental na formação do caráter (ou falta de, sabe-se lá) político nacional. Procure, por favor, o termo "cunhadismo". Com relação às "viúvas do Kremlin", queria muito saber se são as viúvas dos Tsares ou as viúvas dos comunistas.

Me refiro às viúvas dos comunistas, que estão hoje no Brasil exercendo altos cargos na Presidência da República. No que diz respeito aos tzares, não há viúvas. Os comunistas mataram todas.

Quanto a Darcy Ribeiro, sim, eu li O Povo Brasileiro. Mas também Mestiço é que é bom, onde o ilustre antropólogo, entrevistado pelos mais ilustres comunossauros tupiniquins - Antonio Callado, Antonio Houaiss, Eric Nepomuceno, Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer, Zelito Viana e Zuenir Ventura -, confessa sua total integração com as comunidades indígenas.

CALLADO — Darcy, a primeira vez que eu fui ver os índios, em 50 ou 51, já estava muito estabelecido que índia não se comia, para não bagunçar muito o coreto, era mais ou menos tradicional, para não começarem a comer as índias todas. Tanto é assim que, quando eu estive lá, o Leonardo Villas-Boas já estava na Fundação Brasil Central, sendo forçado a deixar o Serviço de Proteção ao Índio porque ele tinha comido uma índia, com quem se casou. Quando é que você chegou lá pela primeira vez? Nessa época já tinha essa lei?

DARCY — É verdade. Eu comecei com os índios em 46. Essa lei existe até hoje, por causa do Rondon e da antropologia clássica. Eu fui educado para não trepar com índia porque, para o antropólogo, no meu caso específico, pesquisas longas eram difíceis. Hoje em dia é que as moças começaram a dar para os índios, as antropólogas dão para os índios, gostam de transar com eles, para fazer intimidades. Tão dando mesmo, dão para eles também. Coitado, índio também é gente. Então, dão. E como elas dão, os homens também começaram a comer as índias, antropólogos de primeira geração. (...) Eu passei meses com os índios, arranjava um jeito de ter uma. Por exemplo, eu não comia as índias Urubus-Kaapor porque eu estava trabalhando com os Kaapor, mas comia índia Tembé, que eram umas índias decadentes que havia lá.