¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, junho 15, 2010
 
SOB O SIGNO DO
BON SAUVAGE



André Bastos escreve:

Janer, gostaria de saber se você acredita ou não na existência de raças superiores.

Eu sei como é você levantar uma hipótese e imediatamente ser acusado de racismo. Como estudo antropologia, já fui chamado várias vezes de racista. Parece que não podemos mais falar que, enquanto as grandes civilizações da Europa e da Ásia se desenvolviam, os índios da América Latina e os nativos da África e Oceania constituíam comunidades animistas primitivas e selvagens. Com exceção de algumas regiões, a África estava mil anos mais atrasada do que a Europa. Como não constituíam Estados e até hoje possuem rivalidades tribais, foi ainda mais fácil para os europeus dominá-los.

Para a antropologia atual, não se usam mais termos como "sociedade primitiva", “selvagem" e "barbárie". Ora, como então devo definir os astecas com seus sacrifícios humanos? Será que devemos queimar as evidencias de que várias tribos americanas eram canibais? Como se chama uma sociedade que considera legal o incesto?

É impressionante como nas escolas as crianças aprendem desde cedo a se odiarem por possuir uma herança genética européia e, assim, descenderem de assassinos de bons selvagens. Ainda me recordo - e olhe que não estudei em escola pública. Na alfabetização, uma professora - para variar marxista - nos ensinava como os índios habitavam sociedades perfeitas nas quais onde reinava a igualdade e tudo pertencia a todos. Não havia guerras, assassinatos, lutas por poder ou estupro e viviam "em comunhão com a natureza". Os índios eram comunistas, e o bárbaro cara-pálida foi o capitalista responsável pela a extinção deste sistema perfeito.


É o velho e nefasto mito rousseauniano do “bon sauvage”, meu caro André, que infesta as esquerdas do Ocidente. Preferir a cultura européia à cultura dos selvagens, hoje, é ser eurocêntrico. Já não se pode nem mesmo falar em tribos. O que existe são nações. Selvagens, nem pensar. Há alguns anos, tive um pega com uma antropóloga em um trem na Espanha. Falei em salvajes.

- No conozco esta palabra.
- Natural de aquellos países que no tienen cultura.
- No la conozco.
- Salvajería?
- Tampoco.
- Dicho o echo propio de un salvaje.

Também não conhecia. Em sua histeria de negar a existência de culturas primitivas, a moça negava o próprio vernáculo.

Existem raças superiores? Se compararmos o legado das culturas grega ou egípcia, hebraica ou romana, chinesa ou nipônica, com a triste condição dos bugres brasileiros, sem ir mais longe, a resposta é mais ou menos óbvia. Enquanto aquelas culturas descobriram o alfabeto há milênios, nossos selvagens não escaparam de uma cultura ágrafa. A tal ponto que são os brancos que têm de atribuir-lhes uma língua escrita.

Será por isto que sociólogos, antropólogos e outros ólogos negam a idéia de raça. Não existindo raça, não existem raças superiores ou inferiores. Toda negação de conceitos milenares não é inocente, a algum interesse escuso serve. No caso, é argumento empunhado pelas viúvas do Kremlin para negar a importância da cultura branca, européia... e capitalista.

Vá lá. Para efeitos de argumentação, até se pode conceder que não haja raças superiores. Mas que ninguém – satisfeito com esta concessão – vá adiante e pretenda negar a existência de culturas superiores. Há uma diferença que não pode ser desprezada entre a Grécia de Platão e Sócrates, entre a Roma de Júlio César ou Marco Aurélio, entre a Áustria de Mozart ou a Alemanha de Platão e a Uganda de Idi Amin Dada, o Congo de Mobutu Sese Seko e o Zimbábue de Robert Mugabe.

Quanto ao incesto, é proibido em muitos países desenvolvidos. Em outros, também desenvolvidos, é legal. Na maioria dos países, não há dispositivo algum sobre o incesto. No Brasil, não é punido criminalmente se as duas pessoas forem maiores de 14 anos.