¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, julho 23, 2010
 
KALOCAINA - X

Karin Boye

Tradução de Janer Cristaldo




Quando cheguei em casa após o trabalho, o porteiro contou-me que alguém solicitara uma licença de superfície provisória no distrito para poder encontrar-me pessoalmente. Olhei atentamente o nome. Kadidja Kappori. Desconhecido. Pelo menos não lembrava tê-lo ouvido antes. O porteiro não havia entendido muito bem o assunto ao telefone, acreditava tratar-se de algo em torno de um divórcio. Mas estranho ainda. Por fim eu estava tão curioso que descuidei de todas as preocupações e escrevi no papel que estava disposto a recebê-la e quando poderia fazê-lo. Tomei o cuidado de fazer o porteiro subscrever, para que participasse do convite e controlasse o tempo de visita; depois bastaria enviar tudo ao controle distrital, que remeteria mais tarde a licença de visita ao interessado.

Eu e Linda comemos algo rápido e nos dirigimos ao serviço militar, cada um para seu lado. O serviço havia aumentado, não só quantitativa como qualitativamente. Durante os dias seguintes passei a considerar o período de trabalho como a parte menos exigente da jornada, enquanto minha mais pesada tarefa era o serviço noturno, muitas vezes preenchido pelas armas. Eu estava contente que minha descoberta estivesse concluída. Tivesse sido um pouco mais lento, talvez ela nunca se concretizasse, se minhas tardes continuassem sendo ocupadas como agora. Com horas tão fatigantes nas costas, teria tentado inutilmente reunir idéias com nitidez total. Felizmente, tratava-se agora da última aplicação prática, e as coisas se marchavam por si mesmas, especialmente porque a presença de Rissen me mantinha alerta. Via-se que ele também estava bastante cansado, mas como era nitidamente mais velho, não funcionava exatamente a todo vapor, e em todo caso, eu jamais cometia enganos diante dele.

Enquanto isso a experiência parecia ter caído em águas mortas, devida às muitas denúncias. Tivemos de recomeçá-la grupo por grupo e durante todo esse tempo continuar com a mesmo experiência do primeiro dia.

Quando as recomeçamos pela terceira vez, sem que um único marido ou mulher tardasse o suficiente com sua denúncia para que pudesse ser preso – e que o trabalho tinha-se para reunir cobaias casadas, na última vez tivemos de esperar três dias antes que fosse reunido um número suficiente –, minha noite livre caiu finalmente em meio à semana, e gozo algum poderia me tentar mais que a idéia de ir para cama algumas horas antes do que geralmente se entende por hora de deitar. As crianças já haviam dormido, a criada já fora embora, eu me espreguiçara uma última vez antes de começar a despir-me, quando soou a campainha.

Kadidja Kappori! – pensei imediatamente e maldisse minha afabilidade, que me fez subscrever aquela solicitação desnecessária de visita. E o pior era que, para cúmulo de tudo, eu estava só. Linda tivera de dedicar sua noite livre a uma reunião de um comitê que preparava uma festa em honra da chefe recém-aponsentada do conjunto das fábricas de produtos alimentícios da cidade como também do novo, que a substituiria no posto.

Quando abri a porta, deparei-me com uma mulher idosa, grande e maciça e com um rosto não muito inteligente.

– Cidadão-soldado Leo Kall? – perguntou. – Sou Kadidja Kappori, e o senhor teve a gentileza de conceder-me um encontro.

– Lamento muito, mas acontece que estou sozinho em casa, e por isso não posso atendê-la. Sinto-me desolado, talvez a senhora tenha feito uma longa viagem até, aqui, mas como a senhora sabe, têm ocorrido várias provocações, onde não tendo sido fácil para o acusado provar sua inocência, pois não havia testemunhas e a polícia não estava vigiando justamente naquele quarto...

– Mas não é esta a questão – disse ela suplicante. – Asseguro-lhe que venho com a melhor das intenções.

– Não desconfio pessoalmente da senhora, mas a senhora há de convir que qualquer um pode dizer isso. O mais seguro para mim é não recebê-la. Não a conheço, sabe-se lá o que a senhora dirá de mim mais tarde.

Eu falara bastante alto o tempo todo para acentuar minha inocência ante os vizinhos. Foi exatamente isto que lhe deu uma idéia.

– O senhor não podia talvez convidar algum dos vizinhos como testemunha? Embora eu deva confessar que de fato prefiro conversar a sós com o senhor.

Inegavelmente, era uma solução. Apertei a campainha da porta mais próxima. Ali morava um médico do pessoal dos refeitórios do Laboratório de Experiências: dele eu não conhecia mais que sua aparência e ouvia às vezes sua mulher discutir em voz excessivamente alta para as finas paredes internas do edifício. Quando apertei a campainha, atendeu-me com o cenho franzido, e eu declinei meu objetivo. Seu semblante descontraiu-se e começou a interessar-se, concordando finalmente. Também ele estava só em casa. Por um momento arrependi-me e me perguntei se tudo fora bem pensado. Em verdade, não existia motivo algum para crer que ele estivesse comprometido em alguma espécie de complô com Kadidja Kappori.

Introduzi ambos no quarto e arrumei rapidamente a cama já feita para dar mais lugar e fazê-lo parecer um pouco mais uma sala de estar.

– Evidentemente o senhor não sabe quem sou – começou ela. – O fato é que sou casada com Togo Bahara do Serviço Voluntário de Cobaias.

Perdi o fôlego, embora tentasse não manifestar desagrado. Então ela era uma dos leais cidadãos-soldados que arruinavam minha experiência. Certamente viera aqui para denunciar seu marido. Por que dirigia-se a mim em vez de fazê-lo diretamente à polícia, isto eu absolutamente não entendia. Teria ela pressentido existir dente de coelho no assunto? Ou talvez pensasse ser a forma menos brutal de denunciar o marido a seu chefe. Fosse como fosse, era impossível interrompê-la agora, pois já a havia recebido e o médico estava ali como testemunha.

– Aconteceu algo deplorável lá em casa – continuou, com os olhos abaixados. – Outro dia ao chegar em casa, meu marido contou-me algo abominável, o mais abominável de tudo, conspiração contra o Estado. Eu não conseguia acreditar em meus ouvidos. Estivemos juntos por mais de vinte anos, pusemos várias crianças no mundo, de modo que eu pensava conhecê-lo bem. Ele tinha seus períodos de irritação nervosa e depressão, é claro, mas isto não cavacos do ofício. Sou lavadeira na Lavanderia Central do distrito, e temos nossa residência lá. Mas isto não vem exatamente ao caso. Mas entenda-me, eu pensava que o conhecia. Não pelo fato de que nunca tenhamos conversado muito, pois quando se está casado há anos, sabe-se muito bem o que se tem a dizer, de forma que nem se precisa dizê-lo. Mas é como se um sentisse em si o que o outro quer e deseja, quando se vive assim juntos e se aceito isso por mais de vinte anos. Um não pensa exatamente pelo outro, mas por si próprio, mas seria muito estranho se subitamente as mãos virassem pés ou saíssem a caminhar por si mesmas... E aconteceu! Primeiro pensei: besteira! Togo não poderia ter agido assim. Mas mais tarde disse para mim mesma: ninguém pode estar totalmente seguro. Afinal, ouvimos diariamente pelo rádio e em palestras, está nos cartazes do metrô e das ruas: NINGUÉM PODE ESTAR SEGURO! QUEM ESTÁ AO TEU LADO PODE SER UM SUBVERSIVO! Eu não prestava atenção a isso antes, nunca pensei que se dirigisse a mim. Mas o que experimentei numa noite, mal consigo contar. Se meus cabelos já não fossem grisalhos, teriam se tornado naquela noite. Não conseguia imaginar que Togo, o meu Togo, fosse um subversivo. Mas qual é a aparência de um subversivo? Não aparentam ser pessoas comuns? É apenas lá dentro que eles são diferentes. Do contrário, não haveria mistério algum. E o fato de fingirem ser como os outros, isto apenas evidencia o quanto são pérfidos. Quando me deitei, Togo morrera para mim. Pela manhã, ao acordar-me ele não era mais um ser humano aos meus olhos. NINGUÉM PODE ESTAR SEGURO! QUEM ESTÁ A TEU LADO PODE SER UM SUBVERSIVO! Ele não era mais um ser humano, era pior que um animal selvagem. Por um momento pensei ser tudo um pesadelo – lá estava ele fazendo a barba, como sempre – e pensei que se pudesse trazê-lo ao bom caminho, tudo voltaria a ser como antes. Mas depois pensei que não se consegue isto com subversivos, pois eles jamais se tornam melhores, e apenas ouvi-los já é bastante perigoso. Ele está podre por dentro. Telefonei para polícia logo que cheguei ao trabalho, eu só podia agir assim ao descobrir o que ele era. Achei que o prenderiam imediatamente, e quando voltou para casa à noite, como sempre, esperei pela chegada da polícia a qualquer momento. Ele notou e me disse: Tu me denunciaste à polícia. Não devias ter feito isso. Era uma experiência e agora destruíste tudo. – Mas diga-me o senhor, como eu poderia acreditar nele? Como podia acreditar que ele era um ser humano novamente? Quando finalmente compreendi que era verdade – aí sim, tinha vontade de estrangulá-lo de tão contente, mas aí ele estava furioso. E queria divorciar-se.

– Isto é extraordinário, foi tudo o que pude dizer.

Ela engolia os soluços, com vergonha de chorar.

– Quero que ele fique comigo – continuou. – Acho injusto que ele queira o divórcio, quando não fiz nada de mal.

De fato, ela tinha razão. Não podia ser punida por ter-se comportado como uma boa e leal cidadã-soldado. Ela devia ser recompensada. Precisava ficar com seu Togo.

– Ele acha que não pode confiar mais em mim – continuou entre soluços. – É claro que ele pode confiar em mim, agora que é um ser humano novamente. E também á claro que um subversivo não pode confiar em mim, Kadidja Kappori.

A imagem da face transfigurada da sofrida mulher ficou-me na memória associada a uma melancólica desesperança. Que exigência imatura e insensata querer ter para si um ser humano em que acreditar, simplesmente acreditar, independente do que ele é! Tive de admitir para mim mesmo existir nisso um fascínio adormecido. Talvez a criança de colo e o selvagem na Idade da Pedra não viviam apenas em alguns, pensei, senão em todos nós, mais em uns, menos em outros, e isto é a diferença fundamental. E assim como me senti obrigado a destruir o sonho da mulher pálida, achei também ser necessário destruir a mesma ilusão de Kadidja Kappori, embora para isso tivesse que sacrificar mais uma de minhas noites livres.

– Voltem os dois aqui num destes horários – disse e escrevi minhas horas livres em um papel. – Se ele não mudar de idéia, acabará me conhecendo melhor.

Despediu-se com muitos agradecimentos, e eu os conduzi a ela e ao médico, até a porta. O médico parecia ter tomado tudo como uma brincadeira, permanecera sentado e rira baixinho o tempo todo, o que era de fato importuno, e continuou rindo até desaparecer em sua casa. Eu não via a situação assim. Eu captara o significado essencial do fato de forma por demais clara para que pudesse nutrir algum interesse pelas ridículas pessoas implicadas no caso.

Não pude deixar de contar a história para Rissen durante o trabalho. Evidentemente, isto não fazia parte do trabalho, mas tinha, em todo caso, uma significação genérica. Mas também tenho fortes suspeitas de ter sido tomado por um certo desejo de mostrar-me interessante e independente, um homem que outros procuram em suas dificuldades, e que fácil e amavelmente os conduz ao caminho certo. De fato, evidenciou-se que assim como eu o criticara e desconfiara profundamente dele, ao mesmo tempo julgava importante seu juízo a meu respeito. Cada vez que percebi estar tentando me impor a ele, envergonhei-me e abafei esta fraqueza. Mas depois de algum tempo, lá voltava ela e eu fazia o que podia para extorquir alguma espécie de atenção deste homem estranho, pelo qual ninguém podia nutrir respeito. Quando sentia ter fracassado, tentava pelo menos irritá-lo e dizia para mim mesmo existir um plano consciente sob minhas alfinetadas: se eu o tinha devidamente irritado, pelo menos sabia onde o tinha.

Entre outras coisas, falamos das palavras de Kadidja Kappori: “Ele não era mais um ser humano”.

– Ser Humano! – disse eu. – Um povo místico elaborou conceitos em torno desta palavra! Como se houvesse algum valor em ser humano! Ser Humano! Isto é apenas uma concepção biológica. Eis algo que precisamos abolir tão rapidamente quanto possível.

Rissen apenas olhou-me com um ar enigmático.

– Kadidja Kappori, por exemplo – continuei. – Para agir corretamente, precisou primeiro se desembaraçar das inibições que jaziam sob a concepção supersticiosa de que seu marido era um “ser humano”, entre aspas, pois do ponto de vista estritamente “biológico”, ele jamais poderia transformar-se em outra coisa no transcurso dos tempos. Esta crise ela superou em uma noite, mas quantos conseguem isso? Tivesse demorado um pouco nas providências, estaria agora entre os subversivos, sem mesmo saber como, tudo devido a uma superstição... Penso ser necessário começar tudo desde o início e ensinar o povo a ver o “ser humano”, entre aspas, no cidadão-soldado.

– Não creio que sejam muitas as vítimas desta espécie de mística – disse Rissen lentamente, enquanto não tirava os olhos de um tubo graduado, que acabara de encher.

Isto não fora dito de forma especial e tampouco tinha algo de notável. Mas ele tinha uma forma de filtrar as palavras nos ouvidos da gente, como se existissem mais significados sob cada uma. Isto fazia com que eu sempre ficasse intrigado com o que havia dito, e suas palavras, voz e entonação voltavam e me inquietavam.

Mas a semana fora tão cheia de acontecimentos surpreendentes que nos esquecíamos de tudo em função deles. Tão importantes que inclusive compreendiam o início da marcha vitoriosa da kalocaína pelo Estado Mundial. Mas eu os suprimo para concluir a história do casal Bahara-Kappori.

Visitaram-me exatamente uma semana após a primeira visita de Kadidja Kappori. Linda estava novamente ocupada com o comitê de preparativos, mas como agora eu estava ciente de suas intenções e sabia que pelo menos podia colocar o homem em xeque, não me importei de convocar testemunhas. Ambos pareciam amargurados e deprimidos e era evidente que conciliação alguma tivera lugar.

– Muito bem – disse eu para estimulá-los (era melhor encarar a situação com bom humor) –, muito bem, parece que a indenização extra foi calculada por baixo desta vez, cidadão-soldado Bahara. Um divórcio pode de fato quase ser chamado de um dano permanente. A propósito, essa bengala foi consequência de seu trabalho ou – hummm – expressa sua situação matrimonial?

Ele não respondeu, continuava imóvel e amargo. A mulher cutucou-o

– Deves pelo menos responder a teu chefe, Toguinho! Imagine, estamos casados por mais de vinte anos e agora ele larga tudo e quer divorciar-se por isto! É injusto, ele chega em casa, engana a gente com uma experiência e depois fica furioso porque se age corretamente!

– Se querias pôr-me na prisão, ficarás livre de mim; mesmo eu estando solto – respondeu o homem acremente.

– Mas não é a mesma coisa – objetou ela. – Se tu fosses aquele que me fizeste acreditar se, pobre de mim se te conservasse em casa. Mas agora que não és aquele, agora que és quem eu conheci durante vinte anos, é claro que quero ficar contigo! Não fiz nada de mal para merecer que me abandones.

– Responda-me, cidadão-soldado Bahara – disse eu em tom menos brincalhão. – Você pensa realmente que sua esposa agiu erradamente ao denunciá-lo?

– Não sei se precisamente errado…

– Como você agiria se alguém lhe confessasse ser espião?... Você não precisa hesitar muito sobre o assunto, espero. Devo dizer-lhe o que deveria fazer? Ir direto à caixa postal mais próxima, ou apanhar o telefone mais à mão e denunciá-lo tão rápido quanto possível. Ou não? Você não faria isso?

– Sim, sim, claro; mas não é exatamente a mesma coisa.

– Alegro-me ao saber que você agiria assim, do contrário seria um criminoso. Foi exatamente o que sua mulher fez. O que você quer dizer quando afirma não ser exatamente a mesma coisa?

Não foi lhe fácil esclarecer. Acabou tentando explicações vacilantes:

– Que ela possa subitamente pensar em qualquer coisa sobre mim... Depois de vinte anos! Dia a dia! E, além disso, imagine se algum dia eu tivesse cometido alguma besteira e lhe pedisse um conselho...

– Então seria tarde para arrependimentos. E quanto ao fato de pensar qualquer coisa, você não sabe que é nosso dever suspeitarmos de todos? O Estado exige isto. Vinte anos é bastante tempo, é verdade, mas uma pessoa pode se enganar durante anos. Você não tem absolutamente motivo algum para queixar-se.

– Não... Mas se ela agora... Eu não poderia...

– Cuidado com a língua cidadão-soldado, você pode facilmente destruir o bom conceito que tenho de seu valor. Sua mulher denunciou um espião. Certo ou errado?

– Sim, claro, está certo.

– Pois bem, está certo. Ela denunciou um espião, mas esse espião não era você. E agora você quer divorciar-se dela porque ela agiu corretamente em relação a uma pessoa que não era você. Não é isso?

– Mas... Sinto... Insegurança, digamos... Quando olho para ela não sei o que pensa de mim.

– Se eu fosse você, trataria de não me divorciar de minha mulher pelo fato de que ela agiu corretamente. Independentemente do fato de que sua profissão não fascina as mulheres, e tampouco o seu estado, nenhuma mulher digna cogitará de você ao conhecer esta história; e de sua divulgação, esteja certo de que eu me encarregaria, pois então você carregará uma mancha, da qual todos falarão.

– Mesmo assim não gosto disto – murmurou o homem cada vez mais confuso. – Não quero que tudo fique assim.

– Você me surpreende – disse eu com a voz cada vez mais fria. – Devo crer que você é um tipo associal? Você sabe qual a imagem que teremos de você no laboratório. E não deve ser nada agradável carregar um tal estigma.

Isto o atingiu. Seu embaraço misturava-se agora ao medo. Sem amparo voltou os olhos, antes imóveis, de sua mulher para mim, de mim para ela. Após uma pausa rápida, voltei ao ataque:

– Mas estou seguro de que você não tinha más intenções. Você queria apenas certificar-se de que sua esposa levara suas suspeitas a sério. Como de fato levou, como você viu. Então não existe mais motivo algum para divórcio. Não tenho razão?

– Sim – concordou ele, mais tranquilo com minha afabilidade, embora não conseguisse seguir muito bem o raciocínio. – Naturalmente. Não existe motivo algum para o divórcio... Então.

A mulher percebeu logo que o perigo fora desviado e tudo voltava a ser como antes, e suspirou aliviada. Sua gratidão foi minha única compensação pelas duas noites sacrificadas. A frieza mal-humorada de Togo Bahara realmente me irritara, mas isso desapareceria com o passar do tempo. Para dar-lhes uma mão gritei-lhes:

– Você pode voltar outra vez e me informar se seu marido realmente pensava o que disse, ou se afinal se trata de um tipo associal!

Bahara sabia que eu era seu chefe. O matrimônio de Kadidja Kappori estava salvo.