¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

terça-feira, agosto 03, 2010
 
NICOLAS SARCOZY, ROMS
ET LES GENS DU VOYAGE


Falava de imigrantes e da defesa da ilegalidade. Na França, Nicolas Sarkozy foi jogado ao Hades da extrema direita por defender medida das mais sensatas. O presidente francês propõe retirar a cidadania de delinqüentes de origem estrangeira - mesmo dos nascidos no país -, além de condenar os pais por crimes cometidos por filhos adolescentes.

A última medida só encontra fundamento na Bíblia, quando o bom Jeová pune Davi por seus crimes matando o filho que tivera com a mulher de Urias. O pecado do sábio rei foi ter enviado seu general Urias, o heteu, ao cerne de uma batalha, para que morresse e ele pudesse ficar com Betsabá, sua mulher. Fora da Bíblia, não tem fundamento jurídico algum. Como condenar uma pessoa por crime cometido por outra? A primeira medida, no entanto, a retirada de cidadania dos estrangeiros delinqüentes, há muito deveria ter sido tomada por todos os países da Europa.

No final de julho passado, após os tumultos em Grenoble envolvendo ciganos, em que vários agentes policiais foram ameaçados de morte e uma esquadra foi atacada, Sarkozy decidiu demolir, nos próximos três meses, cerca de metade dos acampamentos ilegais e expulsar de França os ciganos dos Balcãs (os roms) e de outros países como a Romênia. Os ciganos responsáveis por atentados à ordem pública ou fraudes serão reconduzidos “quase imediatamente” à Bulgária e à Romênia, disse o ministro do Interior, Brice Hortefeux.

Escândalo entre as esquerdas. Onde se viu demolir acampamentos ilegais e devolver a seus países os imigrantes culpados por fraudes e atentados à ordem pública? Ou aqueles que ameaçam policiais de morte? O assunto é tão delicado, que surgiu nos últimos anos uma expressão eufemística para designar os ciganos, gens du voyage. Ou seja, pessoas da viagem, o que quer que isto queira dizer. Falar em ciganos é falar em etnias. Melhor gents du voyage.

A expressão é antiga, data dos anos 70. Na linguagem midiática, designa os ciganos da França, por oposição aos Rom, do Leste europeu. Como a Constituição não reconhece a existência de minorias étnicas ou nacionais, usa-se gents du voyage em vez de ciganos e o problema está resolvido, pelo menos do ponto de vista semântico. M. Henri Braun, advogado das associações ciganas, que agrupa gents du voyage e Roms, ameaça de depositar queixa ante a justiça européia "por provocação ao ódio racial".

A decisão de Sarkozy fere a Constituição, dizem os juristas. “A República Francesa garante a igualdade diante da lei de todos os cidadãos, sem distinção de origem, de raça ou de religião", diz o artigo 1º da Constituição. Segundo o jurista Guy Carcassonne, especialista em direito constitucional, os projetos do governo são ilegais, mesmo tendo sido aprovados pelo Parlamento.

Se assim é, está na hora de reformar-se a Carta Magna, nela incluindo dispositivo que permita mandar de volta a seus países de origem os assaltantes romenos, árabes, africanos e ciganos que se nutrem das divisas dos turistas. Isso sem falar nos vândalos que a cada réveillon queimam 400, 500 carros na periferia de Paris.

Já sofri várias tentativas de assalto na Europa. Duas pelo menos bem sucedidas. Nunca por cidadãos do país por onde viajava. Mas por ciganos, árabes, paquistaneses. Como turista, sempre fui alvo preferencial. O turista está de passagem e – salvo roubo de passaporte ou cartão de crédito – não vai perder seu tempo tomando chá de banco numa delegacia, sabendo que seu dinheiro não será recuperado. Em Barcelona, assaltar virou profissão lucrativa. O governo socialista da Generalitat decidiu que se o turista for roubado em até 400 euros, o assaltante não será preso.

Não ouvi voz nenhuma erguida contra esta medida dos catalães que praticamente legaliza o roubo. As vozes se erguem, isto sim, contra um presidente que quer banir os delinqüentes de origem estrangeira de seu país.