¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, agosto 13, 2010
 
PAVONÁRIO NACIONAL
TEM SEDE NO PLANALTO



Fui revisitar a Revista Virtual de Escritores do Sul, para ver a quantas andava aquele projeto de pavonário ao sul intitulado DICIONÁRIO BIOGRÁFICO DE ESCRITORES DO SUL DO BRASIL (1900-2000), que pelo jeito vai arrolar escritores de até dez anos de idade e, para minha surpresa, vi que fui excluído da literatura gaúcha. Isso que, em edição anterior da mesma e honestíssima revista, lá constava:

Janer Cristaldo Ferreira Moreira

(Santana do Livramento, 2 de julho de 1947), bacharel em direito, graduado em filosofia, escritor, ensaista, contista, mais conhecido como tradutor, e articulista de jornais onlines brasileiro.


(O "onlines" me lembra o Lula falando em "enes" problemas. Nosso dicionarista vai mal).

Não entendi. Vai ver foi porque me recusei a pagar 45 pilas pelo pavonário no qual eu estaria empoleirado para exibir minhas plumas aos pósteros. Fui cassado por 45 dinheiros. Apesar das dezenas de livros que publiquei e traduzi, não pertenço à grei dos escritores de escol dos pampas. Estou chorando sofridas lágrimas de arrependimento. Não fosse tão mesquinho e pagasse míseras 45 merrecas, continuaria no panteão dos imortais. Perdi uma chance única de ser bafejado pela glória, aquela que fica, eleva, honra e consola. Paciência! Lendo os links da íntegra revista, leio esta manchete:

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL EMPOSSA ESCRITORES GAÚCHOS

A Academia de Letras do Brasil, com sede em Brasília, Distrito Federal, estará no dia 10 de agosto empossando 12 escritores do Rio Grande do Sul em seus quadros acadêmicos. A cerimônia de posse acontecerá no salão principal do Memorial RS, na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, a partir das 19 horas, e será aberto ao público.

Estarão presentes ao ato solene o presidente da ALB, Dr. Mário Carabajal e diversos membros desta nova academia de letras que foi fundada em 2001 e se espande
(sic! O redator de Escritores do Sul - ou o imortal da ALB? - pelo jeito andou fazendo gazeta nas aulas de ortografia) pelo país reunindo novos escritores e poetas.

Os escritores gaúchos que foram indicados para este ano e tomarão posse dia 10 de agosto são Benedito Saldanha, Vladimir Cunha dos Santos, Neida Rocha, Marinês Bonacina, Virgínia Fulder, José Moreira da Silva, Nelsi Urnau, Dalva Leal Martins, Tristão Alencar Oleiro, João Marinômio Carneiro Lages, Antônio Celente e Leinicy Dorneles.


Como li automaticamente Academia Brasileira de Letras, fiquei surpreso com a nomeação de 12 escritores gaúchos, assim de supetão. Voltei ao título: era Academia de Letras do Brasil, instituição fundada há nove anos e que já reúne uma considerável plêiade de ilustres desconhecidos, de sul a norte do país. Bem mais que os quarenta gatos pingados da ABL. A ALB, por sua vez, está se revelando uma linha de montagem de imortais. Desde terça-feira passada, temos, de uma só tacada, mais uma dúzia de acadêmicos gaúchos. Dos quais, duvido que algum leitor consiga citar um título, sem buscar no Google. Pessoas honestas, sem dúvida alguma, que se deixaram fitar pela mosca azul.

Curioso observar que o escritor indicado Vladimir Cunha dos Santos já é presidente executivo da ALB/RS, o que quer que isso queira dizer. Temos uma situação no mínimo curiosa: Vladimir Cunha dos Santos, presidente da Academia de Letras do Brasil/Rio Grande do Sul, indica Vladimir Cunha dos Santos para a Academia de Letras do Brasil/Rio Grande do Sul. Antes de ser diplomado pela academia, já a preside. E ele, presidente, indica a si mesmo como escritor.

Há uma indústria de captação de vaidades em franca expansão no país. Li a relação dos demais “escritores” gaúchos já empossados. Não há um único nome conhecido, do qual se conheça um só título. Nenhum dos escritores consagrados do Estado consta do ror de imortais. A egrégia instituição tem representações em 21 das 27 unidades federativas do país. O pavonário, que antes ficava ao sul, agora é nacional. Com sede no Distrito Federal.

Haja caudas emplumadas em Pindorama.