¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, agosto 02, 2010
 
QUANDO DEFENDER A LEI
SE TORNA CONDENÁVEL



Imigrante foi algo que descobri há quarenta anos, quando fui morar em Estocolmo. Na época, o problema das migrações não havia chegado às primeiras páginas dos jornais. Eu tinha uma idéia da Suécia como um paraíso terrenal, construído exclusivamente pelos Svensons. Comecei a desconfiar de algo quando um professor de sueco perguntou-me em que diska eu trabalhava. Diskare é o lavador de pratos. Ora, se nem em minha casa lavo pratos – costumo comer em restaurantes – não seria em país alheio que os lavaria. Foi quando vi que meus colegas de curso, ou estavam lavando pratos ou faziam algum outro trabalho que os suecos não gostavam de fazer.

Olhando mais a fundo e já conseguindo ler os jornais locais, descobri – ó, perspicácia! – que o bem-estar dos suecos dependia da mão-de-obra imigrante. Sem turcos, africanos, árabes, gregos, latinos e mesmo brasileiros, a poderosa economia nórdica não funcionaria. Ingenuidade de minha parte não ter prévio conhecimento desta obviedade, direis! O fato é que as comunicações eram bastante estanques na época, e o problema da imigração não era tão agudo como hoje, nem muito divulgado na mídia. Hoje, não passa dia sem que imigração não seja discutida pelos jornais.

Há quem veja nesta atitude dos europeus uma abominável exploração da mão-de-obra do Terceiro Mundo. Até pode ser. Ocorre que ao imigrante pouco importa ser explorado. No novo país, ganha salários que jamais sonhou, tem saúde e direitos previdenciários que seu país de origem jamais lhe conferiu e pode inclusive almejar um futuro para si e para os seus que sua pátria jamais lhe ofereceria.

O que um dia foi a salvação de sociedades ricas que necessitavam de operários pouco qualificados para trabalhos braçais, tornou–se hoje uma praga para os países desenvolvidos. Se antes os migrantes chegavam perguntando por trabalho, hoje chegam exigindo seus direitos. Isso sem falar que trazem consigo seus hábitos bárbaros: ablação do clitóris, infibulação da vagina, véus e submissão da mulher.

A imigração tornou-se agressiva. Orientais morrem sufocados em furgões tentando chegar às sociais-democracias européias, africanos naufragam em precárias pateras tentando entrar na Espanha, albaneses passam fome em barcos tentando alcançar a Itália, mexicanos morrem de sede e sol no deserto tentando uma chance nos Estados Unidos. São pessoas que arriscam suas vidas sem lenço nem documento, muito menos permissão de trabalho. Primeiro objetivo, chegar ao país-alvo. Depois, veremos o que se pode fazer. Gentes famintas que buscam as sobras das sociedades de consumo. “Escutei o murmúrio dos povos e era como o rumor do mar”, lemos em Isaías. A imigração é uma onda em busca de praia. O rumor do mar está se fazendo ouvir no Ocidente.

São ilegais, onde quer que cheguem. Normalmente, deveriam ser recambiados a seus países. O curioso é que, nos dias atuais, surgiu na mídia ocidental uma exótica tendência que defende ... a ilegalidade. As esquerdas do Ocidente todo defendem a legalização do crime. Quem preconiza punição, ou pelo menos extradição, aos ilegais, é imediatamente pichado como racista, nazista, direita raivosa. Ora, estas pessoas estão apenas defendendo o ordenamento jurídico de seus países.

No Arizona, Estados Unidos, foi promulgada uma lei anti-imigrantes ilegais que exige, entre outras coisas, que os policiais solicitem aos cidadãos documentos que comprovem sua condição de imigrantes legais ou ilegais. A lei teve o apoio da governadora daquele Estado, Jan Brewer. Escândalo entre os politicamente corretos.

Um dia antes de a lei entrar em vigor, a juíza federal Susan Bolton ordenou o bloqueio dos trechos mais controvertidos do texto. Em sua sentença, a juíza ordenou o bloqueio de três pontos-chave, entre eles a obrigação dos policiais de comprovar o status migratório de uma pessoa detida por outras razões.

Barack Obama, por sua vez, se posicionou contra a lei promulgada pelo Arizona. Afirmou que a imigração é um problema nacional. "O que não podemos fazer é permitir um mosaico de 50 diferentes Estados nos quais qualquer um que quiser fazer seu nome de repente diga: 'vou ser antiimigrante e vou tentar ver se podemos resolver o problema nós mesmos'. Este é um problema nacional", disse o presidente norte-americano. "Queremos trabalhar com o Arizona. Entendo a frustração do povo do Arizona, mas não podemos cair na demagogia". Obama decidiu por conta própria que os Estados Unidos não são o que sempre foram, uma federação de 50 diferentes Estados com legislações diferentes entre si.

Sarah Palin, ex-governadora do Alasca e candidata à vice-presidência dos Estados Unidos nas últimas eleições, recorreu ao espanhol para qualificar a posição de Obama. Ontem, em um debate na Foz News, não teve papas na língua. “Jan Brewer tem os “cojones” que faltam a nosso presidente para ter em conta todos os americanos, - não só os cidadãos do Arizona, mas todos os americanos – neste nosso desejo de fazer com que as fronteiras sejam mais seguras e fazer que seja a imigração legal a que ajude edificar este país”.

Claro que Palin será demonizada como militante da tal de direita raivosa. Chegamos a um momento em que defender a legalidade tornou-se atitude condenável. Ora, se a polícia não tiver poderes para conferir se um cidadão é imigrante ilegal, o México se muda para os Estados Unidos, a Albânia para a Itália, a África para a Europa.

Esta atitude de defesa da ilegalidade é, a meu ver, estertor das esquerdas que um dia odiaram o Ocidente. Este ódio está presente na primeira frase do Manifesto Comunista: “um fantasma ronda a Europa, o fantasma do comunismo”. Como o marxismo, tendo como arma uma ideologia, perdeu esta batalha contra o Ocidente, seus remanescentes recorrem agora a uma nova arma, o imigrante.